Bristol, na Inglaterra, traz vários exemplos de como reduzir poluentes e engajar cidadãos em uma causa

Para se tornar a capital verde da Europa de 2015, título dado pela União Europeia, a cidade de Bristol, no sudoeste da Inglaterra, implantou várias soluções para melhorar a vida de seus habitantes, ao mesmo tempo em que reduz suas emissões de poluentes. Várias delas podem ser uma inspiração para municípios brasileiros. As ações realizadas pela cidade incluem mudanças no trânsito, na iluminação pública, no trato como lixo e o engajamento dos moradores.

Na década passada, a cidade foi escolhida para receber um programa piloto do governo britânico de diminuição da poluição, em nível municipal. Em 2003, o Reino Unido estabeleceu a meta de reduzir suas emissões de poluentes em 60% até 2050, tendo como base o total gerado em 1990. Em 2009, essa meta foi alterada para 40% de redução até 2020 e de 85% até 2050.

Universidade Metodista

Embora seja uma cidade de porte médio, com 442 mil habitantes, Bristol sofre bastante com o trânsito, pois está inserida em uma região metropolitana onde vivem 1.1 milhão de pessoas. Para amenizar as longas  filas de carros que se formam nos horários de pico, a prefeitura investiu na melhoria do transporte público e na redução do espaço para os carros.

Em Bristol, também circulam ônibus de dois andares, mas nas cores branca e roxa. Para atrair mais pessoas a eles, o plano foi criar faixas exclusivas e tornar a viagem mais fácil e agradável. As informações sobre rotas e horários são afixadas nos pontos e distribuídas em folhetos nas estações principais, o que facilita o planejamento das viagens. O bilhete para o ônibus pode ser comprado via celular. O passageiro informa em um aplicativo onde está e para onde vai, pois a tarifa é calculada de acordo com a distância, e então recebe um código para mostrar ao motorista. Os veículos da cidade, que circulam sem cobrador,aceitam apenas o valor exato da tarifa. A frota atual está sendo trocada por veículos híbridos, que funcionam com energia elétrica ou diesel e ônibus 100% elétricos. Os novos modelos oferecem wi-fi gratuito para ser usado durante a viagem, de modo a atrair o publico, que não desgruda do celular.

Para os carros, as ações foram mais drásticas. Em vez de criar um pedágio urbano, como fez Londres, Bristol foi além e decidiu fechar várias ruas de sua área central, que é cortada por um rio, criando áreas de circulação a pé ou de bicicleta, que receberam tratamento paisagístico com deques de madeira, árvores e esculturas. Nas vias que seguem abertas aos veículos houve corte nas vagas de estacionamento e redução da velocidade máxima, política que se estendeu a outras áreas da cidade. O limite caiu de 35 milhas por hora (56 km/h) para 20 (32
km/h).

Como esperado, parte dos motoristas demorou algum tempo para se adaptar à mudança. Um deles foi o próprio prefeito, George Ferguson, 68, que foi flagrado dirigindo acima do limite. Ferguson também enfrentou a revolta dos comerciantes que perderam vagas de estacionamento nas ruas. Um grupo mais agressivo deles chegou a levar um tanque de guerra para a frente da sede da assembleia municipal durante um protesto (mas não houve disparos) e a vestir um esqueleto com uma calça vermelha, traje habitual do prefeito. Ferguson, no cargo há três anos, se defende dizendo que as medidas têm apoio de boa parte da população e que visam a tornar a cidade um lugar melhor. “Quero ter certeza de que nossas crianças respirem ar limpo e que não vamos tirar delas nenhuma parte de sua expectativa de vida”, diz.

A preocupação com mudanças nos transportes é importante, pois a maior parte da poluição gerada em Bristol vem dessa área, assim como o consumo de energia elétrica. As emissões foram reduzidas em 17% desde 2005 e hoje Bristol possui a menor emissão de CO2 por pessoa entre as cidades grandes do Reino Unido, equivalente a 4,7 tonelada por pessoa por ano. A média nacional é de 6,6 toneladas.

O compromisso de cada país em reduzir poluentes foi um dos principais pontos da COP 21, Conferência das Nações Unidas sobre o Clima, realizada em Paris, em dezembro passado, ocasião em que cada país levou ao encontro uma meta, estabelecida internamente, de redução, e se comprometeu a cumprí-la. O Brasil, por exemplo, pretende a reduzir a emissão de gases que causam efeito estuda em 37% até 2025 e de 43% até 2030, tendo como base os dados de 2005.

“Quero ter certeza de que nossas crianças respirem ar limpo e que não vamos tirar delas nenhuma parte de sua expectativa de vida”

Reino Unido

Energia

No Reino Unido, ao contrário do Brasil, a maior parte da energia ainda vem de usinas a carvão, uma das fontes que geram mais poluentes. Embora a energia brasileira tenha como principal origem as hidrelétricas, que não geram poluentes, o uso de termelétricas têm crescido devido à falta de chuvas nos últimos anos.

Para reduzir o gasto de energia na cidade, Bristol investiu 30 milhões de libras em programas como a troca de 10.500 lâmpadas por modelos de LED, mais econômicos, redução do consumo de energia em escolas, que tiveram campanhas de conscientização e instalação de painéis de energia solar nelas.

Outra iniciativa curiosa foi a de usar restos de árvores e folhas recolhidas dos parques e das ruas para alimentar usinas elétricas. A queima desse material é usada para gerar energia. Na parte de manejo do lixo, a cidade conseguiu reduzir o total de resíduos domésticos encaminhados para aterros de 87% em 2004 para 27%, hoje. Metade do lixo vai para reciclagem e 23% segue para a geração de energia.

• Rodrigo Tavares