O acordo foi fechado nesta quinta-feira (21/3) durante reunião na capital chilena, no que foi chamado de declaração de Santiago

Santiago — Chefes e representantes de 11 países latino-americanos decidiram acabar com a União das Nações Sul Americanas (Unasul) e estabelecer as bases para um novo fórum de discussão na região, chamado de Prosur (Fórum para o progresso da América do Sul). O grupo é mais alinhado às diretrizes liberais e, a partir dos atuais presidentes, mais próximo dos Estados Unidos, governado por Donald Trump.

Universidade Metodista

O acordo foi fechado nesta sexta-feira (22/3) durante reunião na capital chilena, no que foi chamado de declaração de Santiago. Os novos arranjos políticos e ideológicos – que têm como protagonistas o brasileiro Jair Bolsonaro, o argentino Mauricio Macri e o chileno Sebastian Piñera levaram os presidentes a confirmar a formação do fórum em contraponto aos debates feitos pelos chefes anteriores.

Os termos do fórum foram lidos no início da tarde de ontem. O presidente do Prosur será o chileno Piñera pelos próximos 12 meses, que depois desse período passará o cargo para o paraguaio Mario Benítez. Os debates serão centrados em áreas de educação, saúde, defesa, segurança, infraestrutura, energia e controle e ações contra desastres naturais.

Fonte: CB-Leonardo Cavalcanti



Opinião

O desmonte do fórum dos países sul-americanos é mais um lance em favor da hegemonia norte-americana

Em 11 de setembro de 2010, a prestigiosa revista britânica The Economist, de perfil liberal em economia e conservador em política, publicou uma reportagem especial sob o título “A Ascensão da América Latina”. A capa da publicação era um mapa do continente americano “de cabeça para baixo” (segundo a convenção prevalecente de que o Norte deve estar no alto). Nela aparecia, com grande destaque, a chamada: “Não é quintal de ninguém” (Nobody’s backyard).

Não é necessário ter muita imaginação para intuir como essa imagem e esses dizeres terão mexido com as mentes dos formuladores das políticas externa e de segurança nacional em Washington. O uso do conceito de “backyard”, que, para nós, soa naturalmente pejorativo, se insere em uma visão estratégica e geopolítica corrente, que ganhou contornos mais precisos ao longo da história com a Doutrina de Monroe e o seu famoso corolário Roosevelt (uma referência não a FDR do New Deal e da política de boa vizinhança – sic –, mas a Ted, da “política do porrete”).

Assim se interrompe um processo contínuo de integração e autonomia da América do Sul

Desde a redemocratização de alguns dos maiores países da América do Sul – e especialmente na primeira década do novo milênio – várias iniciativas vinham mudando o perfil geopolítico da região. Entre os avanços mais notáveis figura a criação da União de Nações Sul-Americanas. A Unasul foi formalmente instituída por tratado, assinado em Brasília, em 23 de maio de 2008, por onze presidentes e um vice-presidente, envolvendo todos os países da região. Do ponto de vista político, era a culminância de um longo processo, iniciado com o Mercosul em 1991. De uma forma ou de outra, todos os governos democráticos estiveram envolvidos neste projeto bem-sucedido de integração. A ideia de uma configuração sul-americana remonta à proposta, feita pelo presidente Itamar Franco em 1993, de uma Área de Livre Comércio Sul-Americana, a Alcsa, que se contrapunha no plano conceitual ao projeto da Alca, que englobaria todo o hemisfério.

Um marco importante foi a realização de uma cúpula de presidentes sul-americanos convocada por Fernando Henrique Cardoso em 31 de agosto de 2000. Já durante o governo Lula, teve lugar o processo constitutivo da Comunidade Sul–Americana de Nações (Casa), com a realização de três encontros presidenciais, em Cusco (2004), Brasília (2005) e Cochabamba (2007). Embasando os avanços político-institucionais, importantes iniciativas econômicas nas áreas de infraestrutura, como a Irsa, e do comércio, como o acordo Mercosul-Comunidade Andina, deram solidez ao processo. Muito significativa, até pelo aspecto simbólico, foi a criação, no âmbito da Unasul, do Conselho Sul-Americano de Defesa (CDS), que possibilitou a essa temática sensível ser objeto de consideração sem a tutela dos Estados Unidos. No plano político-diplomático, a Unasul e os esforços que a precederam foram cruciais para o encaminhamento de soluções de disputas internacionais (Venezuela-Colômbia) ou internas (Altiplano-Media Luna, na Bolívia). Na diplomacia multilateral da região, a Organização dos Estados Americanos cedia espaço às iniciativas puramente latino-americanas e caribenhas, como a Celac.

Fonte: CC- Celso Amorim