VILA FERROVIÁRIA RECEBE RECURSOS DO PAC CIDADES HISTÓRICAS E É CANDIDATA AO RECONHECIMENTO COMO PATRIMÔNIO MUNDIAL DA UNESCO

> A histórica vila inglesa, localizada na região sudeste de Santo André, na grande São Paulo, é o mais importante patrimônio arquitetônico “victoruan style” no Brasil, decorrente da ocupação inglesa na Serra do Mar para a construção da estrada de ferro Santos-Jundiaí, no final do século XIX.

Percorrer as ruas da vila ferroviária de Paranapiacaba é um convite a reviver o passado, imersos na arquitetura inglesa, cercados pela natureza e por uma charmosa névoa, que confere – assim como a paisagem e algumas réplicas, como a torre do relógio – ares de Londres à localidade. Mas, a falta de investimentos na manutenção da infraestrutura de Paranapiacaba ofuscou, por muitos anos, a real beleza do destino, cenário que começa a ser alterado pela liberação de verba do PAC – Programa de Aceleração do Crescimento Cidades Históricas, do Governo Federal.

Universidade Metodista

No início de 2013, o prefeito de Santo André, Carlos Grana, foi a Brasília e soube que o Ministério da Cultura estaria destinando recursos para a recuperação de patrimônios históricos tombados pelo Iphan – Instituto Nacional do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional. Segundo o secretário de Gestão de Recursos Naturais de Paranapiacaba e Parque Andreense, Ricardo Di Giorgio, para inscrever a Vila a receber os recursos para as melhorias, era necessário correr contra o tempo e elaborar um detalhado projeto de recuperação. “Em apenas 15 dias protocolamos o plano de restauro, baseado na compilação de projetos já finalizados, que estavam em análise. Em maio daquele mesmo ano, estive em Brasília apresentando o documento e falando do processo de recuperação do local. Em agosto obtivemos a resposta da aprovação culminando, mais tarde, na liberação da primeira parte dos recursos, que totalizam aporte de R$ 42 milhões”, lembra.

RESTAURO

As obras de recuperação da vila ferroviária estão a todo vapor. Neste ano foi concluída a revitalização da biblioteca (antiga casa do engenheiro), que teve sua fachada restaurada e ganhou uma sala exclusiva, intitulada Trilhos e Trilhas, contando a história da estrada de ferro e de Paranapiacaba.

São cerca de mil obras entre livros, documentos históricos e filmes que retratam a trajetória e o passado de um vilarejo esquecido no tempo. Há muitos trabalhos de autores e artistas locais, como da escritora Silvia Carrasqueira, de 92 anos, nascida e criada na vila. Ela retrata seu amor pelo lugar em diversas contribuições artísticas, como num quadro doado à biblioteca.

Estão em andamento, ainda, a recuperação de oito das 242 casas que serão contempladas pelo projeto, na vila Martin Smith, com intervenções como pintura, troca de assoalho, recuperação de portas e janelas e revisão das instalações elétricas e hidráulicas. Di Giorgio planeja a adoção de uma identidade visual padronizada para todas as residências da parte baixa da Vila, que são foco das reformas. Para o secretário, o ideal seria restaurar a memória original do local, que tinha casas coloridas em sua extensão. “Estamos pesquisando a aceitação dos moradores para fazermos esta adequação. Hoje, as moradias têm a tonalidade marrom, padrão que remete às cores dos vagões de trem que por aqui circulavam. Mas, originalmente, eram todas coloridas”, reforça o secretário de Paranapiacaba.

Ainda, segundo ele, estão em curso a recuperação dos galpões das oficinas de manutenção, do almoxarifado da antiga São Paulo Railway, da garagem das locomotivas, que abrigará a estação do Expresso Turístico, que liga a estação da Luz à Paranapiacaba. O bucólico passeio de resgate à cultura da Vila – testemunha de uma importante fase de expansão da tecnologia ferroviária no Brasil, na segunda metade do século XIX – tem partidas todos domingos, às 8h30, na estação da Luz, em São Paulo, ou às 9 horas, na estação Prefeito Celso Daniel, Santo André.

Além das obras já citadas, estão previstos também a revitalização do campo de futebol do Serrano Athletic Club – fundado em 1903 e considerado um dos primeiros com medidas oficiais, em todo o Brasil. No projeto estão previstas a instalação de novos vestiários e arquibancadas, além de um palco para a realização de shows e apresentações; da sede da antiga Sociedade Recreativa Lyra da Serra, que resgatará a sala de cinema que funcionou no local no início do século XX – também uma das primeiras em todo o País –; e uma casa na região do Hospital Velho. “A expectativa é concluir todas as intervenções em até trêsanos. A demora maior está na restauração dos imóveis, que implica na desocupação e no manejo de famílias para a conclusão das obras”, pondera Di Giorgio.

Para 2016, a programação prevê a entrega de do almoxarifado, que será sede do tradicional Bar da Zilda. O espaço diminuto recebe turistas e moradores, que lotam as calçadas aos fins de semana, depois de apreciar as atrações culturais e ecológicas do lugar. No novo projeto, o bar ganha um salão amplo, cozinha maior e bem equipada, banheiros adaptados para pessoas com necessidades especiais, além de quatro decks de madeira na área externa, que abrigarão mais mesas ao ar livre.

A comerciante e  moradora da Vila, Zilda Maria Bergamini, de 59 anos, comemora a inciativa de resgate estrutural e da memória de Paranapiacaba. “A Vila tem um imenso potencial histórico e turístico, que não vinha sendo valorizado. Ver meu bar mudar para um ambiente desses, é um sonho pelo qual luto há mais de 10 anos. Espero receber os visitantes para o Festival do Cambuci (evento típico da programação cultural local) já na casa nova”, festeja.

Paranapiacaba: Patrimônio Histórico da Humanidade

De acordo com o secretário de Gestão de Recursos Naturais de Paranapiacaba e Parque Andreense, Ricardo Di Giorgio, as obras de recuperação abriram portas para outro importante reconhecimento. Desde fevereiro de 2014, a Vila Ferroviária encontra-se na lista indicativa de bens culturais brasileiros do Comitê do Patrimônio Mundial da Unesco – Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura-, com vistas ao título de Patrimônio Mundial. Também integram a lista o Cais do Valongo, no Rio de Janeiro – RJ, e o Mercado Ver-o -Peso, em Belém – PA. “As obras do PAC Cidades Históricas nos permite recuperar a memória de Paranapiacaba e contamos totalmente com a participação e envolvimento da comunidade. Queremos ir além da reforma física e estrutural: buscamos o reconhecimento da Vila como Patrimônio da Humanidade”, destaca o titular da Pasta.

“Buscamos o reconhecimento da Vila como Patrimônio da Humanidade.”

Turismo aquecido

A revitalização de Paranapiacaba provocou reflexos imediatos, impulsionando o turismo local. O fluxo de visitantes cresceu com o início dos reparos e com a conquista da candidatura da vila ferroviária a Patrimônio Histórico da Humanidade. Em 2015, até o mês de outubro, passaram pela vila cerca de 237 mil visitantes, contra 235 mil que transitaram em 2014.

Segundo levantamento realizado pela Secretaria de Cultura e Turismo de Santo André, a promoção de Paranapiacaba como destino nas férias, feriados e as parcerias com o São Paulo Convention Visitors Bureau e emissoras de rádio impulsionaram a visibilidade do local e atraíram mais visitantes. “Com a entrega das primeiras obras previstas para 2016, esse número deve ampliar. Desde que a prefeitura de Santo André comprou a parte baixa da Vila, trabalhamos para divulgar o distrito como atração turística e fomentar a geração de renda aos moradores locais”, conclui Di Giorgio.

Fernanda Bertoncini