PROJETO DA ITAIPU BINACIONAL, VENCEDOR DE PRÊMIO DA ONU, TEM 29 MUNICÍPIOS COMO PARCEIROS

> O que um laboratório de substâncias fitoterápicas, que beneficia 24 famílias de agricultores em Pato Bragado, cidade de pouco mais de cinco mil habitantes no oeste do Paraná, tem a ver com a proteção e a recuperação dos recursos hídricos do planeta? Para um observador distraído, pode parecer que nada, ou apenas uma iniciativa isolada para gerar renda nos recantos do País. Mas, a produção em Pato bragado, que pode chegar a 96 toneladas por mês de extratos fitoterápicos, é um dos muitos desdobramentos do Programa Cultivando Água Boa, da empresa Itaipu Binacional, que este ano recebeu o prêmio Water for Life, concedido pela Organização das Nações Unidas – ONU, como melhor prática de gestão de recursos hídricos do mundo. (1) Implantado há 12 anos na Bacia Hidrográfica do Rio Paraná – Parte 3, região (2) que se conecta à Hidrelétrica de Itaipu, o Cultivando Água Boa já tem trabalhos em 206 microbacias da sua área de influência e está em estado avançado em 30% do seu território.

Os resultados são tão positivos, que o diretor da Agência Nacional de Águas – ANA, Vicente Andreu, propôs a implantação do mesmo modelo ao governo do estado de São Paulo para recuperação do Sistema Cantareira que, sabidamente, atravessa uma crise hídrica sem precedentes. Mas, o cantareira não será o primeiro sistema hídrico a adotar o modelo, pois ele já serve de inspiração para projetos em vários cantos do planeta. “O modelo do Cultivando Água Boa é universal e, respeitadas as diferenças culturais, pode ser implantado nos mais diferentes contextos, como comprovam experiências de replicação já em andamento (3)”, afirma o diretor de Coordenação e meio Ambiente da Itaipu, Nelton Friedrich. Segundo ele, o programa trabalha com uma visão de sustentabilidade territorial, buscando, por meio de várias ações interconectadas, executadas de forma matricial, promover novos meios de ser, sentir, viver, produzir e consumir na área de influência de Itaipu.

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Outro dado importante é que o trabalho é feito a partir de parcerias. São cerca de dois mil parceiros, entre eles o poder público, organizações não-governamentais, moradores, produtores rurais, etc, e as ações são realizadas se forma conjunta e participativa. “As ações são definidas com atores locais, de acordo com as prioridades e realidade de cada município, tendo a água como elemento integrador. O que há em comum é sempre a questão da preservação dos cursos d’águas”, explica Friedrich.

MISSÃO INSTITUCIONAL

O Programa foi criado em 2003, quando a Itaipu Binacional mudou a sua missão institucional e incorporou a responsabilidade socioambiental e a promoção do desenvolvimento sustentável da região de influência da hidrelétrica. A consequência dessa mudança foi a necessidade premente de cuidar da água. Este “cuidar”, porém, partiu do conceito de que água é matéria-prima não apenas para a geração de energia elétrica, mas também para a produção de alimentos (principal atividade econômica da região), além de ser fundamental em outros múltiplos usos, como abastecimento humano, lazer e turismo.

Com isso era necessário um programa que garantisse uma água em quantidade e qualidade. A região, porém, estava bastante impactada por uma produção rural adotada há décadas, sem a devida preocupação com o meio ambiente. Muitos cursos d’água haviam desaparecido em função da retirada da vegetação para lavouras e a criação de animais, sem contar a poluição gerada pela produção de dejetos e uso de agrotóxicos. Assim, foi criada uma verdadeira rede de proteção e recuperação de recursos da Bacia Hidrográfica com Paraná 3. Hoje, o Cultivando Água Boa agrega 20 programas(4) desdobrados em 65 projetos interconectados, inspirados em documentos planetários, como a Carta da Terra, a Agenda 21 e os Objetivos do Milênio.


O CULTIVANDO ÁGUA BOA JÁ TEM TRABALHOS EM 206 MICROBACIAS DA SUA ÁREA DE INFLUÊNCIA E ESTÁ EM ESTADO AVANÇADO EM 30% DO SEU TERRITÓRIO

O EXEMPLO DE PATO BRAGADO

Mas, voltemos ao laboratório de extratos de fitoterápicos do município de Pato Bragado, um bom exemplo de como funciona, na prática, o “Cultivando Água Boa”. A unidade foi criada a partir de uma parceria com a prefeitura local e o projeto Plantas Medicinais, um dos 20 integrantes do Programa. Por ele, as 24 famílias de agricultores foram estimuladas a organizar uma cooperativa, que ficou responsável pela produção e secagem da matéria-prima. Após a secagem, as plantas seguem para o laboratório, onde são transformadas em extrato.

A Itaipu Binacional entrou com a assistência técnica e com parte dos recursos, enquanto a prefeitura reformou e readequou um barracão, onde foi instalado o laboratório. Outro parceiro do projeto foi a associação Produtores Associados para o Desenvolvimento de Tecnologias Sustentáveis – Sustentec, que, além de orientação, projeto técnico e parte dos recursos, também ajuda na articulação entre os agricultores, o laboratório e empresas de processamento de medicamentos fitoterápicos.

O resultado foi o aumento do valor agregado do produto. Além disso, por ter sido concebido também dentro do conceito de Arranjo Produtivo Local – APL (5), que respeita a rica biodiversidade e diversidade cultural da região, o laboratório foi considerado uma estratégia essencial para a sustentabilidade da Bacia Hidrográfica do Paraná 3.

FOTO: DIVULGAÇÃO

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Etapas rigorosas

Assim como aconteceu em Pato Bragado, o “Cultivando Água Boa” sempre vai estimular o diálogo com a comunidade e as parcerias, afirmam seus coordenadores. “O programa se desenvolve a partir de uma ampla participação corresponsável de todos os atores do território na construção, execução e avaliação das ações desenvolvidas”, diz Friedrich. Segundo ele, o papel das prefeituras é fundamental e sua atuação é importante em todas as iniciativas do “Cultivando Água Boa”. Friedrich explica, ainda, que o modelo do programa é único, mas há flexibilidade para a forma como é implantado.

O diretor destaca, porém, que independentemente da realidade e contexto da localidade, as etapas de implantação do programa são rigorosas, pois são fundamentais para o envolvimento das comunidades. São elas: Sensibilização, Oficinas do Futuro e Pacto das Águas(6). “Somente após cumpridas as etapas de implantação é que se fala em recurso, pois, é só com o diagnóstico participativo, que se vai quantificar os investimentos e estabelecer as responsabilidades”, resume.

Como entrar em contato

A prefeitura interessada em conhecer melhor o “Cultivando Água Boa”, ou implantá-lona sua região, deve enviar e-mail para os endereços cultivandoaguaboa@itaipu.gov.br ou itaipu@itaipu.gov.br. Normalmente, o primeiro passo é o envio de técnicos da prefeitura, para conhecerem, in loco, as ações do programa.

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Depois disso é possível firmar termo de cooperação técnica para o compartilhamento com a prefeitura da metodologia do programa Cultivando Água Boa. Nesta etapa, podem ser feitas várias rodadas de capacitação, tanto em Itaipu quanto na cidade interessada.

Mas, atenção: a Itaipu não investe recursos em ações de recuperação de passivos fora da sua área de influência, ou seja, a Bacia Hidrográfica do Paraná 3. O que ela pode fazer é assumir alguns custos, como o deslocamento de técnicos para ministrar cursos de capacitação na localidade que está replicando a metodologia.

LEGENDA

(1) Em 2005, o programa já havia recebido o prêmio Carta da Terra, da Unesco;
(2) Área de influência do programa 8 mil km2 29 municípios, 35 mil propriedades rurais 1 milhão de habitantes;
(3) Onde já há replicação Espanha, República Dominicana, Guatemala, Uruguai, Paraguai, Argentina, Bolívia, Minas Gerais, Distrito Federal e Mato Grosso;
(4) Principais programas: Educação Ambiental, Gestão por Bacias Hidrográficas, Gestão da Informação Territorial, Saneamento na Região, Plantas Medicinais, Monitoramento Participativo da Qualidade da Água e Avaliação Ambiental, Sustentabilidade de Segmentos Vulneráveis (indígenas, juventude, quilombolas, pescadores, coletores de recicláveis, pequenos produtores), Produção de Peixes em Nossas Águas, Biodiversidade Nosso Patrimônio, Corredor de Biodiversidade, Pesquisa e Proteção às Espécies Ameaçadas;
(5) Arranjo Produtivo Local – APL – Aglomeração em um único território de agentes econômicos, políticos e sociais em torno de uma atividade econômica, que criam vínculos de produção, interação, aprendizagem, articulação, cooperação etc. O aproveitamento desta sinergia fortalece as chances de todos sobreviverem no mercado. O “Cultivando Água Boa” já tem 38 APLs. 
   • Oficinas do Futuro: inspiradas na metodologia do educador Paulo Freire, leva as comunidades a fazerem o autodiagnóstico e o planejamento,das ações necessárias para a recuperação ambiental;
(6) Pacto das Águas: compromisso firmado pelos participantes de realizar as ações de recuperação ambiental. Neste momento, os parceiros selam acordos e convênios. 
   • Sensibilização: são encontros com a comunidade, quando é explicado o que é o Programa e fala-se da importância das práticas ambientalmente corretas.

fonte: Itaipu


Após a secagem, as plantas seguem para o laboratório, onde são transformadas em extrato

Viviane Raymundi