APESAR DE ACUSAR REDUÇÃO EM REPASSES FINANCEIROS, UNIVERSIDADE FEDERAL DO GRANDE ABC, NA REGIÃO METROPOLITANA DE SÃO PAULO, APOSTA EM CONVÊNIOS E PARCERIAS PARA APROFUNDAR PAPEL DE DISSEMINADORA DE CONHECIMENTO
> A UFABC (Universidade Federal do Grande ABC), com campi em Santo André e São Bernardo do Campo, na Região Metropolitana de São Paulo, não está e nem poderia estar imune ao aperto nas contas federais na esteira do ajuste fiscal que se tornou mandatório com o recrudescimento da situação econômica do País. Sinalização do MEC (Ministério da Educação) de que haverá menos recursos disponíveis fazem com que a UFABC reavalie planos, como o de iniciar já no ano que vem a construção de um prédio destinado a salas de aula, laboratórios e áreas de apoio no campus São Bernardo.
Além disso, o contingenciamento leva a incertezas quanto ao cronograma de obras de expansão do campus Santo André. Em meio a este cenário instável, o reitor Klaus Capelle transmite a impressão do comandante que maneja a embarcação. Para o físico alemão que domina a língua portuguesa com sotaque inconfundível, está tudo sob controle na instituição que mantém mais de 12 mil alunos entre graduação e pós-graduação. Nesta entrevista, Capelle aborda, entre outros assuntos, a necessidade de blindar recursos da Educação às intempéries macroeconômicas.
Revista República – Recentemente o senhor liderou encontro das reitorias das dez mais novas universidades federais do País. No encontro foi redigida uma carta de reivindicações a ser entregue para o MEC. Quais são as principais demandas apresentadas no documento?
Klaus Capelle – O documento, denominado Carta de Santo André, faz propostas programáticas para a gestão da Educação e da Ciência e Tecnologia nas universidades brasileiras. Em suma, são metas para garantir o cumprimento do PNE (Plano Nacional da Educação). Entre as principais cobranças está a proposta de elaboração de uma Lei Orgânica das Universidades, protegendo a autonomia destas instituições de ensino. Além disso, a Carta pleiteia a necessidade de garantir 10% do PIB (Produto Interno Bruto) para Educação.
Apesar de estar sediada em São Bernardo e Santo André, Apesar de acusar redução em repasses financeiros, Universidade Federal do Grande ABC, na Região Metropolitana de São Paulo, aposta em convênios e parcerias para aprofundar papel de disseminadora de conhecimento a UFABC tem demonstrado interesse em expandir sua atuação para os demais municípios do ABC. Recentemente, a reitoria firmou parceria com a Prefeitura de Mauá.
Qual é o modelo educacional pensado para a cidade? Fala-se na criação de uma estação meteorológica comandada pela universidade. Como seria esse projeto?
O Polo da UFABC em Mauá foi criado em parceria com a prefeitura e prevê a realização de atividades de extensão universitária, cultura, ensino e pesquisa. A Escola Preparatória para o Enem (Exame Nacional do Ensino Médio) já está, inclusive, operando no prédio do Polo e atende neste ano a 320 alunos da cidade. A estação meteorológica já foi adquirida pela UFABC e será instalada em local a ser definido. Atualmente estamos buscando o melhor local em colaboração com a Defesa Civil de Mauá.
A UFABC tem firmado parcerias com prefeituras e Consórcio Intermunicipal para o desenvolvimento de cooperações técnico-científicas. Recentemente, a universidade firmou convênio para mapear a situação habitacional do ABC. Além de fortalecer o campo de pesquisas, essas parcerias poderiam contribuir para as receitas da instituição?
O foco principal nos convênios da UFABC não é financeiro, mas a possibilidade de providenciar benefícios para os parceiros e a sociedade. O convênio que visa o mapeamento da situação habitacional do ABC será realizado com recursos obtidos pela Universidade junto ao Ministério das Cidades. De uma forma geral, recursos externos obtidos por meio de convênios são vinculados à execução do próprio convênio e não incrementam a receita à disposição da instituição.
Como a UFABC tem se dividido entre os focos de Tecnologia e de Ciências Humanas?
Temos atualmente 122 professores credenciados na área de Ciências Humanas e Sociais, na qual oferecemos sete cursos de graduação e quatro de pós-
-graduação. São 503 professores na área de Ciência e Tecnologia, com 19 cursos de graduação e 19 de pós-graduação. Todos estes professores são pesquisadores com título de doutor. Desde o ano passado, estamos conduzindo um processo de consultas públicas e estudos de viabilidade para a ampliação dos cursos oferecidos em diversas áreas.
A universidade possui convênios com empresas para encaminhamento dos graduandos ao mercado de trabalho?
Sim. Atualmente mantemos 539 convênios de estágio e mais de 60 convênios de pesquisa com empresas.
Parcerias internacionais estão na rota de interesse da instituição?
Parcerias internacionais são uma das nossas prioridades. A Universidade já inseriu 1.404 alunos no programa Ciência sem Fronteiras. A UFABC ainda mantém acordos institucionais de colaboração e apoia colaborações individuais de seus pesquisadores, com dezenas de universidades estrangeiras. Inclusive, por dois anos consecutivos, fomos ranqueados como a melhor universidade brasileira no quesito internacionalização, no ranking da Folha de São Paulo.
Recentemente divulgou-se um corte orçamentário de 30% promovido pelo governo federal nas contas da UFABC. Em que medida isso afetou as atividades?
Na verdade não houve um corte de 30% no orçamento. Houve nos primeiros meses do ano um corte de 30% no repasse financeiro mensal para os gastos correntes. Estes repasses agora estão normalizados e todos os compromissos da instituição estão sendo honrados.
Quais as principais metas e desafios à frente da UFABC?
Nossa meta é realizar atividades de ensino, pesquisa e extensão, buscando a excelência acadêmica com responsabilidade social. Já nosso desafio está em consolidar o crescimento físico e acadêmico da UFABC em um cenário economicamente difícil.
Nicole Briones