Vitória da Conquista, terceira maior cidade da Bahia, já zerou a transmissão vertical do HIV e espera repetir feito no combate à sífilis transmitida de mãe para filho

A transmissão vertical da sífilis – doença infecciosa causada pela bactéria Treponema pallidum – configura um grande problema de saúde pública no Brasil. Segundo o Ministério da Saúde, das várias doenças que podem ser transmitidas durante o ciclo grávidopuerperal, a sífilis é a que detém as maiores taxas de transmissão. Em gestantes, sua forma congênita pode causar aborto, má formação do feto ou morte ao nascer. O teste para diagnosticar a doença deve ser feito na primeira consulta do pré-natal, no terceiro trimestre da gestação e no momento do parto, para evitar sequelas no bebê, como cegueira, surdez e deficiência mental.

Para combater o mal pela raiz, Vitória da Conquista, no estado da Bahia, uniu esforços e criou um plano de eliminação da doença, que a tornou destaque em 2014 no combate à sífilis congênita (transmitida de mãepara filho), por meio do Centro de Atenção e Apoio à Vida Dr. David Capistrano Filho – Caav. A cidade passou a contar com a descentralização do tratamento para as unidades básicas de saúde da rede municipal. A experiência consta no Caderno de Boas Práticas do Ministério da Saúde, lançado em outubro, abordando “O uso da penicilina na Atenção Básica para prevenção da Sífilis Congênita no Brasil”. Segundo a titular da Secretaria Municipal de Saúde, Márcia Viviane de Araújo, a facilitação do diagnóstico por meio do teste rápido e a manipulação da penicilina na rede básica de atendimento, sem a exigência de um médico para acompanhar o processo, otimizou a detecção e o tratamento dos casos. “Fizemos uma ampla capacitação com a equipe, envolvendo o SAMU – Serviço de Atendimento Móvel de Urgência, que deu treinamento de suporte básico de vida”, ressalta.

Universidade Metodista

A taxa de incidência da doença para cada mil nascidos vivos que, em 2013 era de 3,46, e em 2014 de 2,82, recuou, em setembro de 2015, para 1,92, de acordo com levantamento da Secretaria Municipal de Saúde. No País, estudos de representatividade nacional apontam para 21.382 casos de sífilis em gestantes registrados, em 2013, no SINAN – Sistemas de Informações de Agravos de Notificação, com taxa de detecção de 7,4 por 1.000 nascidos vivos. No mesmo período, os índices de detecção por mil nascidos vivos foram de 6,9 na região Norte, 5,3 na região Nordeste, 8,7 na região Sudeste, 7,3 na região Sul e 8,5 na região Centro-Oeste.

Novos desafios

Para a secretária de Saúde, a maior dificuldade não era diagnosticar e tratar a gestante, mas sim, alcançar seu parceiro, também portador da doença. “Neste contexto, o município promoveu uma grande mudança na atenção básica, ao substituir profissionais contratados por concursados. Apostamos na sensibilização do atendimento, a partir da otimização dos investimentos no setor. A estratégia culminou numa maior captação de gestantes, com 100% delas recebendo o tratamento adequado. Adicionalmente, intensificamos as campanhas educativas a cerca da patologia para sanar as dúvidas da população”, observa Márcia, que estima, em 2016, reduzir o número de casos no município a um para cada mil nascidos, aproximando-se da meta ideal do Ministério da Saúde, com taxa de 0,5 para cada mil nascidos. Ainda, conforme dados do Ministério da Saúde, o Brasil é signatário junto à OMS – Organização Mundial de Saúde, para a eliminação da sífilis congênita nas Américas, cuja meta é atingir 0,5 caso para mil nascidos vivos até 2015.

Para tanto, o País lançou o Plano Operacional para a Redução da Transmissão Vertical do HIV e da Sífilis. Em 2011, foi incorporado o “Plano Global para Eliminar Novas Infecções por HIV em Crianças até 2015 e Manter suas Mães Vivas”. A transmissão vertical do HIV será considerada eliminada quando atingir uma taxa de duas crianças HIV+ para cada 100 mães soropositivas. Vitória da Conquista – que possui cerca de 343 mil habitantes e é considerada a terceira maior cidade da Bahia, ficando atrás apenas de Salvador e Feira de Santana – espera inspirar outras localidades no combate à sífilis congênita, por meio da experiência de descentralização do atendimento às unidades de saúde básica. A iniciativa bem-sucedida traz perspectiva ambiciosa ao governo municipal: zerar a transmissão vertical da sífilis (de mãe para filho), repetindo o feito obtido ao também zerar a transmissão vertical do HIV na cidade.

• Fernanda Bertoncini