CURSO PREPARATÓRIO PARA O ENEM E PARA CONCURSOS É OFERECIDO EXCLUSIVAMENTE PARA TRAVESTIS E TRANSEXUAIS
> Preconceito, discriminação e portas fechadas são dificuldades comuns no caminho dos travestis e transexuais em escolas e também no mercado de trabalho. Mas uma ideia do Coletivo Transformação, de São Paulo, quer mudar isso. O Coletivo vem promovendo um preparativo para um grupo de 15 pessoas enfrentar o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) e também concursos públicos.
O encontro acontece às quintas-feiras no Centro de Referência e Defesa da Diversidade, no bairro República, em São Paulo – serviço administrado pelo Grupo Pela Vidda/SP e conveniado à prefeitura de São Paulo.
A maior parte dos frequentadores é formada por pessoas na faixa dos 20 anos, mas há exceção, como a de Thaís de Azevedo, travesti que aos 66 anos decidiu voltar a estudar. “É uma pedagogia totalmente diferente e um mundo novo de aprendizagem. Nós descobrimos que somos pessoas, que temos direitos e que podemos e devemos ter acesso aos estudos”, defende. Ela, inclusive, já concluiu um curso técnico de auxiliar de enfermagem, mas não exerce a profissão por não ter concluído o ensino médio.
Foi no mercado de trabalho, entretanto, que Thaís sofreu o maior preconceito de sua vida. “Eu trabalhava em uma loja de um grande shopping de São Paulo e utilizava o banheiro feminino. As outras vendedoras fizeram um abaixo-assinado para que eu não o utilizasse mais. Não tive outra escolha e precisei sair. A situação ficou insustentável”, destaca.
Já a travesti Mel Pinheiro trabalha em um salão de beleza, mas não mede esforços para entrar na faculdade de estética ou culinária. No ano passado, ela concluiu o ensino médio pelo Ensino de Jovens e Adultos (EJA).
O objetivo principal das aulas é resumir de forma clara e objetiva os temas que são cobrados com frequência nas provas do Enem e em concursos públicos. Cursos semelhantes já são oferecidos no Rio de Janeiro e em Belo Horizonte.
“Durante as aulas fazemos debates e contamos as histórias de vida. É necessário ter sensibilidade para tratar dessas questões”, afirma Jefferson Lopes, um dos coordenadores do curso. Segundo ele, cerca de 15 professores, todos voluntários, se revezam nas mais variadas disciplinas dando aulas ou, ainda, planejando o conteúdo. Destes 15, três se declaram trans.
As aulas se encerram em dezembro, mas a expectativa é de que em fevereiro os encontros sejam retomados.
Direitos garantidos
O Diário Oficial da União publicou, em março deste ano, duas resoluções que garantem mais direitos à comunidade LGBT do país.
Uma delas é a utilização do nome social de travestis e transexuais em documentos relacionados a ocorrências de segurança pública. A outra é a garantia da utilização desse nome nas escolas e universidades, na escolha dos uniformes e na utilização dos banheiros baseados na identidade de gênero de cada pessoa.
No Enem, por exemplo, os nomes sociais começaram a ser utilizados na prova do ano passado. Foram 102 solicitações em 2015, número que já alcançou os 278 na edição deste ano.
Informações sobre o curso do Coletivo Transformação:
Telefone (11) 3151-5786
Felipe Martins