MODELO PODE REUNIR UNIVERSIDADES E EMPRESAS EM UM ÚNICO ESPAÇO, COM A FINALIDADE DE PRODUZIR PRODUTOS E SERVIÇOS INOVADORES

> Um Parque Tecnológico não pode ser visto como algo que ‘todas’ as cidades devem construir”. Como essa frase, Ana Abreu, subsecretária de Ciência, Tecnologia e Inovação do Estado de São Paulo, demonstra a complexidade de um modelo de fomento à economia que reúne organizações públicas, universidades e iniciativa privada e vem ganhando representatividade em diversos municípios do Brasil. Muitas vezes aventado como bandeira de governo e solução para o crescimento econômico e geração de renda, a dificuldade de encontrar locais adequados, viabilidade logística e a demanda por parte das empresas – muitas vezes afetadas por problemas sazonais da economia mundial – barram projetos que durante anos acabam não saindo do papel. Relativamente novo no Brasil, o levantamento mais recente sobre a situação dos Parques Tecnológicos brasileiros foi divulgado pelo Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação – MCTI, em 2013.

Ana Abreu FOTO: Francisco Rosa

Ana Abreu
FOTO: Francisco Rosa

O trabalho identificou 80 iniciativas de parques tecnológicos no País. Porém, muitas vezes o conceito de Parque Tecnológico acaba se confundindo com o das Incubadoras Tecnológicas. Enquanto um se baseia em um amplo arranjo produtivo e inovador de larga escala, o outro visa a gerar projetos inovadores e dar espaço e apoio para os empreendedores. Ou seja, naturalmente, a Incubadora pode anteceder a criação de um Parque.

Universidade Metodista

De acordo com um estudo realizado em 2011 pela Associação Nacional de Entidades Promotoras de Empreendimentos Inovadores – Anprotec, em parceria com o MCTI, o Brasil tem 384 incubadoras em operação, que abrigam 2.640 empresas, gerando 16.394 postos de trabalho. Essas incubadoras também já graduaram 2.509 empreendimentos, que hoje faturam R$ 4,1 bilhões e empregam 29.205 pessoas. O mesmo estudo revelou outro dado importante: 98% das empresas incubadas inovam, sendo que 28% com foco no âmbito local, 55% no nacional e 15% no mundial.

Segundo Ana Abreu, o Parque Tecnológico é um empreendimento que necessita de planos estratégicos para que se cumpra com o seu objetivo em relação a promover o desenvolvimento do município e da região. “Desta maneira não podemos afirmar que seja uma saída para todos os municípios, mas para aqueles que sustentam requisitos necessários para a sua consolidação”, diz. “Um empreendimento como o Parque Tecnológico necessita de requisitos específicos locais para serem implantados, como poder público local comprometido com o projeto e os marcos legais necessários; instituições de ensino e pesquisa para qualificação de mão de obra e para produção de conhecimento e setor produtivo que demande a produção de conhecimento para agregação de valores dos seus produtos, por meio da inovação”, explica.

Estudo aponta eficiência nos modelos existentes

O Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação – MCTI lançou em 2013 (último estudo do setor) uma análise do cenário atual dos parques tecnológicos brasileiros. Intitulado Estudo de Projetos de Alta Complexidade – Indicadores de Parques Tecnológicos, o documento avaliou dados de 80 iniciativas em diversos estágios, a partir de consulta a gestores das unidades em diversas localidades do país. A pesquisa avaliou os parques pelos critérios de distribuição geográfica, estágio atual de desenvolvimento, quantidade de empresas instaladas, número de empregos gerados, fontes de recursos e áreas de atuação.

Segundo o estudo, 39,7% das 939 empresas instaladas nos parques que responderam ao questionário estão situadas na Região Sul (373), enquanto 32,3% ficam na Região Nordeste (303) e 24,5% no Sudeste (230). Juntas, as regiões Centro- Oeste e Norte abrigam 33 empresas (3,5% do total). Até junho de 2013, essas iniciativas geraram 32.237 empregos, distribuídos entre institutos de pesquisa (1.797), gestão das próprias estruturas (531) e iniciativa privada (29.909). Do total de empregos nas empresas, aproximadamente 13,5% envolvem mestres (2.950) e doutores (1.098). Para o secretário Prata, o indicativo contrasta com o universo empresarial brasileiro, cujo quadro de colaboradores tem participação menos expressiva de profissionais de tal nível educacional. Dos 80 parques tecnológicos analisados, 84% se encontram nas regiões Sul (34) e Sudeste (33), em diversas fases de desenvolvimento. O Nordeste tem quatro em operação e dois em implantação. Juntos, Centro-Oeste e Norte têm sete empreendimentos, nenhum em operação.

Viabilidade financeira

O esforço conjunto das três esferas do governo e da iniciativa privada se faz presente nas três fases de desenvolvimento, embora a contribuição de cada fonte varie de acordo com o momento. O governo federal investiu 54% do total durante a etapa de projeto. No período de implantação, as esferas estadual e municipal se responsabilizaram por 92% dos recursos. Quando os parques entraram em operação, a iniciativa privada tomou frente, com 55% dos recursos.

Se somados os valores gastos nas três fases, o aporte federal de R$ 1,2 bilhão levou estados e municípios a fornecerem R$ 2,4 bilhões e empresas a aplicarem R$ 2,1 bilhões

São Paulo concentra 25% dos empreendimentos

De acordo com levantamento do Ministério da Ciência, Tecnologia  e Inovação – MCTI, dos 80 parques tecnológicos analisados em todo o Brasil em 2013, o Estado respondeu por 25%. Hoje existem 30 iniciativas no Estado. Seis já obtiveram credenciamento definitivo, dos quais cinco estão em operação: Parque Tecnológico de São José dos Campos – PqTec; Parque Tecnológico de Sorocaba – Empts; Parque Tecnológico de Ribeirão Preto – Supera); Parque Tecnológico de Piracicaba e Fundação Parque Tecnológico de São Carlos – ParqTec. O Parque Tecnológico de Santos – SantosTec iniciou as obras civis do empreendimento.

Os que estão em processo de credenciamento são sete. O Parque Tecnológico de Campinas da Unicamp; o Techno Park de Campinas – Techno Park e o Parque Tecnológico CPqD, na mesma cidade, estão em operação. O município vai abrigar também o futuro Parque Tecnológico do Centro de Tecnologia da Informação Renato Archer, que está em obras. Serão credenciados ainda o Parque Tecnológico de São José do Rio Preto, em obras, o Parque Tecnológico de Botucatu e o Parque Tecnológico de Santo André.

São também sete os parques que têm hoje credenciamento provisório, sendo que só o Parque Tecnológico da Unvap, em São José dos Campos, está em operação, e o da Zona Oeste de São Paulo capital, já está pronto. O Parque Tecnológico Damha, em São Carlos, o de Barretos –SP e o da Zona Leste, em São Paulo, estão em obras. Existem ainda oito Parques Tecnológicos em negociação no Estado. Os de Guarulhos e Jundiaí tiveram suas modalidades migradas para Centro de Inovação Tecnológica. Os outros devem se instalar em Rio Claro, Americana, Santa Bárbara D’Oeste, Pirassununga e Bauru.

Santo André definiu local de implementação

A cidade de Santo André, localizada na região metropolitana de São Paulo, escolheu o terreno de uma empresa desativada, a Rhodia Química, que ficava às margens da Avenida dos Estados – liga o município à capital -, como local que abrigará novo empreendimento. O terreno possui 8,2 mil m², sendo 5 mil m² de área construída.

O deputado estadual de São Paulo, Luiz Turco, disse que o valor inicial para o projeto será da ordem de R$ 14 milhões, montante este que deverá ser pleiteado junto ao Estado. “Estamos apresentando este pedido agora para que ele seja incluído no orçamento deste ano por meio de emenda orçamentária”, afirmou. Já a professora do Centro de Engenharia, Modelagem e Ciências Sociais Aplicadas da UFABC, da Universidade Federal do ABC, Dra. Anapatrícia Morales Vilha, ressaltou que a instituição de ensino poderia ser um parceiro muito importante neste processo de construção do Polo. “Conceitualmente é desejável que tenha – uma unidade da Faculdade dentro do Polo –, até para atrair empresas. É o valor agregado. Além disso, a empresa que quer se instalar no Parque quer fazer isso para conversar com atores que possam contribuir e a universidade passa a ser um elemento importante, pois gera um conhecimento crítico para a empresa depois poder aplicar. Então, acho importante que estes atores estejam presentes”.

Ainda segundo Vilha, a contribuição da UFABC poderia se dar em oito áreas de Engenharia, no campo das ciências naturais – química, física e biologia –, no segmento de biotecnologia, nanotecnologia, além da neurociência.

O MCTI lançou em 2013 uma análise do cenário atual dos parques tecnológicos brasileiros e avaliou dados de 80 iniciativas em diversos estágios

Exemplos semelhantes pelo mundo

Foto: Adenir Britto

Foto: Adenir Britto

O Parque Industrial de La Plata, província de Buenos Aires – Argentina, teve em sua consolidação inicial  uma administração puramente pública; foram vendidos  os lotes e passou a ser uma organização mista  (público/privada). Agora é somente privada, uma vez  que toda a propriedade é pertencente a empresários.  Os proprietários são associados. Portanto, quem administra o local é um profissional contratado, que age com independência.

O administrador do Parque, Hugo Pérez, destaca que a criação do empreendimento gerou um aquecimento imobiliário no começo da atividade, pois muitos queriam participar para ter benefícios com a compra de imóveis. Um segundo ponto positivo foi a valorização do entorno. O representante relatou que para se construir com eficiência um parque industrial são necessárias diversas avaliações, como a possibilidade de se ter fontes de energia suficientes e constantes, como gás e energia elétrica com capacidade suficiente para suportar a atividade das empresas, além de boa estrutura de comunicação, vias de acesso em condições de suportar o tráfego atual e futuro.

O Polo Tecnológico de Navacchio – Itália, abriga a maioria dos parques – 31 unidades de quase todas as regiões italianas. A instituição tem como missão apoiar o desenvolvimento econômico por meio da inovação. Reúne 600 empresas intensivas em tecnologia e 170 centros de pesquisa e desenvolvimento em áreas diversas, como biotecnologia (usada especialmente na agricultura, ciência dos alimentos e medicina), nanotecnologia (o estudo de manipulação da matéria numa escala atômica e molecular), genômica (que estuda as informações hereditárias de um organismo as quais estão codificadas em seu DNA), além da tecnologia da informação e comunicação, energias renováveis e bioconstrução (conceito de construções sustentáveis).

O Polo de Navacchio realiza especialmente serviços qualificados para o desenvolvimento tecnológico de pequenas e médias empresas, por meio de um modelo de participação integrado entre empresas, universidades, técnicos de gestão empresarial, de finanças e de tecnologia. A unidade favorece a qualificação e a valorização das empresas perante o mercado de forma complementar, mantendo uma  estrutura de gestão leve, por meio de uma série de empresas subsidiárias.


Áreas do conhecimento atendidas pelos parques tecnológicos credenciados no Sistema Paulista de Parques Tecnológicos

Confira:

  • Acessibilidade, usabilidade e comunicabilidade para pessoas com deficiências]
  • Aeronáutica
  • Agroindústria
  • Agroindústria Alimentícia
  • Águas e Saneamento Ambiental
  • Automação
  • Bioenergia
  • Bioprocessos
  • Biotecnologia da Reprodução
  • Controle de Resíduos de Medicamentos
  • Cosméticos
  • Eletro metal mecânica Automobilística
  • Energia
  • Equipamentos Médico-Hospitalares
  • Equipamentos, Serviços Especializados
  • Engenharia Não-Rotineira e Química
  • Fármacos
  • Genética Animal
  • Gerontologia
  • Inovação e Gestão
  • Instrumentação Eletrônica
  • Inteligência de Mercado
  • Logística
  • Materiais
  • Mecânica Fina
  • Mecatrônica
  • Meio Ambiente
  • Metalografia
  • Metalurgia
  • Métodos Quantitativos
  • Metrologia
  • Microeletrônica
  • Nanotecnologia
  • Óptica
  • Pastos e Manejo
  • Pesca
  • Petroquímica
  • Plásticos
  • Porto-Indústria
  • Produtos Florestais
  • Produtos Naturais da Fauna e Flora
  • Qualidade em Produtos Cárneos e do Leite
  • Raças de Corte e de Leite
  • Rastreabilidade
  • Saúde
  • Setores Financeiro, Industrial, Corporativo e de Administração Pública
  • Simulação e Modelagem
  • Software
  • Tecnologia da Informação e Comunicação
  • Tecnologias Sociais
  • Telecomunicações
  • Têxtil e Moda

Robson Gisoldi