CURITIBA SAI NA FRENTE E INSTITUI PROJETO QUE COMBATE AÇÕES VIOLENTAS NAS ESCOLAS DO MUNICÍPIO

> Bullying é o termo em inglês adotado para definir atos violentos, intencionais e repetidas vezes cometidos contra uma pessoa indefesa, causando danos físicos e psicológicos. Ele está inserido na sociedade como um todo, e principalmente em escolas, materializando-se por meio de brincadeiras maldosas, ou apelidos. A seriedade do assunto pode comprometer, inclusive, a aprendizagem e rendimento escolar dessas crianças em sala de aula; afinal, é sabido que obstáculos emocionais podem atrapalhar o rendimento acadêmico.

Para discutir este assunto tão sério, a CANE – Coordenadoria de Atendimento às Necessidades Especiais, da Secretaria de Educação de Curitiba, instituiu em junho de 2014 o projeto Bullying não é Brincadeira, inicialmente trabalhado em 42 escolas da rede municipal de ensino. “Este projeto foi pensado para trabalhar a aceitação à diversidade nos espaços escolares, e a cultura de respeito às singularidades”, explica Elda Cristiane Bissi, coordenadora dora da CANE e uma das criadoras do projeto. A coordenadora conta que a ideia surgiu a partir de uma reunião com a secretária de Educação, por acreditarem que era possível desenvolver um trabalho com as crianças, professores e familiares. A inserção do projeto na rede municipal de ensino se deu de maneira gradativa. A princípio a CANE desenvolveu kits compostos por cinco bonecos coloridos, confeccionados em material plástico, acompanhados de uma apostila que apresentava as ingularidades de cada personagem. Lilo, Max, Nina, Teco e Lisa tornaram mais lúdica e dinâmica a abordagem do assunto com as crianças. Embora fictícios, os personagens possuem características que são facilmente encontradas no ambiente escolar.

Universidade Metodista

Lilo é uma criança com autismo, Teco tem deficiência visual, Lila não ouve nem fala, Max é usuário de cadeira de rodas, e devido ao tratamento de leucemia, Nina perdeu os cabelos. Cada escola que aderiu ao projeto recebeu um kit com cartilhas, que serviram para nortear o trabalho dos professores. Porém, cada unidade teve autonomia para desenvolver as atividades e abordar o tema da forma que achou melhor. “A ideia era que os professores trabalhassem essa temática junto com os alunos de forma independente, com autonomia, e criassem atividades escolares que incentivassem essa conscientização. Isso se deu de diversas formas, como por exemplo, muros de algumas escolas grafitados com desenhos e mensagens anti-bullying, Campanhas, panfletos, bonecões, Quadrinhos, etc”, conta Bissi.

O lançamento do projeto contou com palestra ministrada pelo psicólogo e mestre em Educação, Marcos Meier, e a partir deste momento outras atividades fora desenvolvidas com os docentes, a fim de orientar os profissionais sobre como trabalhar as temáticas relacionadas ao bullying. Inicialmente foram distribuídos kits para 42 escolas, atingindo proximadamente 30 mil alunos de seis a 12 anos, que cursavam do primeiro ao quinto ano do ensino fundamental. Ano passado (2015) o projeto foi ampliado para 107 escolas, atingindo cerca de 80 mil estudantes, e, inclusive, muitas delas estenderam o trabalho para alunos do 6º ao 9º ano. “Embora o material tenha sido pensado para o público infantil, isso não impede que as cartilhas sejam trabalhadas com alunos de séries mais avançadas, como foi o caso de algumas escolas”, relata a coordenadora.

A meta é que todas as 181 escolas municipais sejam contempladas com esse projeto até o final deste ano, atingindo aproximadamente 140 mil alunos. Bissi conta que a repercussão e aceitação desse projeto foi muito além do esperado. “A forma como as escolas e os professores vestiram a camisa do projeto foi inacreditável, percebemos que os alunos criaram um vínculo muito grande com os personagens e suas histórias”, afirma. Houve casos de crianças que vivenciavam uma situação de apelidos e que após a inserção do projeto reportaram um movimento de mais respeito e, consequentemente, passaram a ir mais felizes para a escolapor saber que não sofreriam bullying. Os benefícios estenderam-se até o aprendizado dos alunos, que com a autoestima mais elevada, passaram a apresentar melhora no rendimento escolar. A Secretaria ainda promoveu duas mostras itinerantes que percorreram os prédios dos órgãos públicos de Curitiba – Prefeitura Municipal e Secretaria de Educação – para apresentar os diferentes materiais produzidos pelas escolas, com a temática “Bullying não é Brincadeira”.

LEI FEDERAL ANTIBULLYING

Em novembro último foi sancionado o Programa de Combate à Intimidação Sistemática em todo território nacional, também conhecido como Lei de Combate ao Bullying (nº 13.185/2015). A legislação prevê que os estabelecimentos de ensino, clubes e agremiações recreativas trabalhem medidas de conscientização e prevenção de combate ao bullying. “Ficamos felizes com a notícia por saber que não se trata de um trabalho só nosso, mas que é uma preocupação geral, embora tenhamos saído na frente”, disse a coordenadora.


 

COMO IMPLANTAR UM PROJETO MUNICIPAL ANTIBULLYING

Em primeiro lugar, Bissi sugere que a temática seja estudada com a seriedade que merece, e, em seguida, trabalhada junto com os professores das redes municipais de ensino. “Vimos o interesse dos docentes em contribuir para algo que melhoraria seu ambiente de trabalho. Acredito que parte dessa aceitação se deve ao fato de não termos dado uma receita pronta a eles; pelo contrário, demos autonomia para que se envolvessem com o projeto de forma criativa, e eles nos surpreenderam com a forma diversificada com que o colocaram em prática”, afirma a idealizadora do projeto. Ou seja, não existem entraves burocráticos, apenas o desejo de planejar e desenvolver tal ação.

Marianna Fanti