Inspirado nas feiras modelos de Porto Alegre, capital de Rio Grande do Sul, o projeto santista, com início previsto para 2016, prevê mais segurança, nova padronização visual de barracas e programas de qualificação dos permissionários e funcionários

Quem não se lembra de acordar pela manhã e querer tomar aquele caldo de cana gelado, mais conhecido como ‘garapa’, acompanhado de um saboroso pastel de carne, quente e fumegante, que só melhora ao se adicionar um bom molho de vinagrete ou uma bela pimenta ‘das bravas’, como se diz por aí? Tudo isso ao som de estridentes gritos como: “Banana, um real”; “Laranja fresquinha do sítio”; “Mulher bonita não paga, mas também não leva”. Esse é o cenário das chamadas feiras-livres, locais que representam um dos primórdios do comércio varejista, levando produtos frescos de diferentes regiões do País aos bairros mais distantes.

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Entendendo que se trata de um espaço de cultura popular brasileira, que fez parte da infância da maioria das pessoas e foi fortemente afetado pela concorrência das grandes redes supermercadistas, a Prefeitura de Santos, localizada no Litoral Sul de São Paulo, acaba de instituir o Inova Feira (Programa de Modernização, padronização e Planejamento do Sistema de Feiras-¬Livres do Município), que prevê uma mudança significativa na padronização visual, segurança e qualificação das 245 barracasem operação na cidade.

Segundo a assessoria de imprensa do Município, a iniciativa prevê a presença da Guarda Municipal, atividades culturais como exposição de artes e campanhas educativas, tornando as feiras mais atrativas e não apenas um local para compras. “Os feirantes também irão receber qualificação profissional (em parceria com a iniciativa privada) e com isso poderão oferecer melhor atendimento à população”, destaca o chefe da seção de Fiscalização de Feiras Livres do Departamento de Fiscalização Empresarial e Atividades Viárias – Defemp, ligado à Secretaria de Finanças – Sefin da cidade, Gildo Andrade.

A cidade conta com 25 feiras- livres e a proposta, que foi elaborada em conjunto com representantes dos feirantes, foi aprovada pela Câmara em 15 de outubro de 2015. Entre as novidades está a publicidade nas barracas, cujos recursos obtidos deverão ser destinados prioritariamente para a aquisição de mobiliários e equipamentos, como novas lonas, balanças e uniformes, entre outros itens. Em caso de descumprimentos, estarão sujeitos a advertência, multa de R$ 500,00 (aplicada em dobro em caso de reincidência) e até a cassação da licença. Os feirantes terão prazo de 12 meses para se adequarem à nova legislação.

Evolução

De acordo com Andrade, o processo pode ser considerado uma evolução nas feiras da cidade. “Infelizmente, todos sofreram com o advento dos hipermercados, assim foram as feiras-livres, em todo o País. Com esse programa, a prefeitura de Santos, com o apoio da iniciativa privada, estará ajudando os feirantes a mudar a real situação”, explica.

O representante argumenta que a ideia do projetou surgiu das chamadas feiras-modelo de Porto Alegre, capital do Rio Grande do Sul. Na cidade existem atualmente 38 exemplos desse porte, divididos em sete grupos, que vendem hortigranjeiros, carnes, derivados de leite, frios e embutidos. A Prefeitura local, por meio da Secretaria Municipal da Produção, Indústria e Comércio – Smic coordena e incentiva sua qualificação. Participam das feiras, produtores rurais e comerciantes aprovados em processo de seleção pública e as exigências variam conforme o ramo, em função das características dos produtos vendidos. “Nos espelhamos em Porto Alegre, local em que a feira-livre, além de moderna, não é apenas um ponto comercial onde você poderá comprar frutas e legumes. É também um ponto cultural e turístico”, argumenta Andrade.

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A expectativa é que isso vá para frente o mais rápido possível, porque vai ajudar a gente 100%”, disse o presidente do Sindicato dos Feirantes de Santos, Daniel Valente. Já o feirante Edmilson Santos destaca a criação de atividades de saúde, devido ao grande número de clientes idosos, e a possibilidade de anúncios publicitários nas barracas. “Tudo isso vai ser melhor para a feira ser um ponto turístico mais forte”, avalia.

Dentre outras mudanças previstas, a iniciativa santista prevê a melhora da infraestrutura necessária para a realização das feiras, com prioridade para o abastecimento de água e energia elétrica e dos sistemas necessários para distribuição, utilização e medição de consumo. Os gastos com consumo de água e energia serão individualizados e pagos pelos permissionários beneficiados. O projeto contempla, ainda, instalações sanitárias móveis; demarcação dos locais e dos espaços utilizados pelas barracas, mobiliário para sinalização do trânsito e interdição dos pontos utilizados.

Outro ponto destacado é a formação profissional com relação às boas práticas comerciais e técnicas de venda, além de capacitações em manipulação de alimentos, normas de higiene e posturas municipais e cursos de aperfeiçoamento do atendimento aos clientes e turistas. Quanto à publicidade, os feirantes poderão veicular publicidade institucional e empresarial nas barracas, desde que tenham as suas permissões, diretrizes e padrões de uso regularizados de acordo com a legislação vigente. Por meio dos órgãos competentes, a Prefeitura receberá, analisará e aprovará os projetos publicitários. A receita auferida pelo permissionário com a veiculação das mensagens deverá ser destinada, prioritariamente, à aquisição de mobiliário e equipamentos definidos pela iniciativa, tais como bancas, coberturas em lona, balanças, câmaras frigoríficas, coletores de resíduos, uniformes e outros que se fizerem necessários.

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Do projeto à realidade

A modernização das feiras-livres da cidade era uma antiga solicitação dos feirantes. Segundo a assessoria de imprensa de Santos, por meio do Departamento de Fiscalização Empresarial e Atividades Viárias – Defemp começaram a ser organizadas reuniões com o Sindicato dos Feirantes, Agentes da Saúde, Ouvidoria e Procuradoria, entre outros. “Montamos uma Comissão de Trabalho unindo sindicato, Ouvidoria, Saúde, Comunicação, Finanças e, por fim, Executivo e Legislativo”, detalha Gildo Andrade. O programa teve início em 2014, quando a Prefeitura procurou o sindicato dos feirantes com uma proposta de padronização das barracas. Com a participação dos comerciantes, as secretarias de Comunicação e Finanças desenvolveram o Projeto Inova Feira.

A proposta seguiu para a Câmara e, após aprovação, foi sancionada pelo prefeito. As feiras-livres estão entre as atividades mais antigas do mundo e, no Brasil, foram formalizadas há 101 anos. A data é referência ao Ato nº 710, de25 de agosto de 1914, do então prefeito de São Paulo, Washington Luiz. Em Santos, passaram a funcionar de forma organizada em 1923, apesar da junção de barracas existir desde meados do século 19. A feira-livre é regulamentada pelo Decreto Municipal nº 1883 de 19 de fevereiro do ano de 1993. Na cidade são montadas 25 feiras, sendo que há algumas com maior número de barracas e outras pequenas. As feiras ocorrem nas Zonas Orla e Intermediária, Zona Noroeste e Centro.

• Robson Gisoldi