Projeto educacional estimula agricultura familiar no Rio Grande do Sul

Com 4.171 habitantes – segundo dados do último censo do IBGE realizado em 2010 -, o município de Itatiba do Sul, no Rio Grande do Sul, possui quatro escolas municipais – com 346 alunos, e economia baseada no plantio agrícola de tabaco. Porém, há três anos, devido à conscientização dos malefícios do uso de agrotóxicos, muitos produtores migraram para o plantio de laranja e produção de leite. Em meio a este cenário, onde a maior parte das famílias subsiste da agricultura familiar, no início do ano passado a escola municipal Frei Henrique de Coimbra, localizada no povoado de Campo do Açoita – zona rural, aproximadamente 13 km distante do Centro da cidade -, Antonio Paulo Rodrigues, diretor e pedagogo com especialização em supervisão e orientação escolar, idealizou o projeto Alimentação Saudável,  onsumo Sustentável, desenvolvido com apoio da Prefeitura municipal – recebendo ano passado o troféu Prêmio Gestor Público, realizado pelo Sindifsco-RS.

O objetivo da iniciativa é conscientizar a comunidade local sobre o consumo de uma alimentação saudável, livre de agrotóxicos, e mais rica em valores nutricionais. Para cumprir este objetivo, o diretor contou com a ajuda da comunidade escolar, para a criação de uma horta. Todo processo passou pelas mãos dos 50 alunos do ensino fundamental – 1º ao 9º ano, que foram parte indispensável do projeto, desde o preparo da terra, passando pela semeadura e finalmente a colheita dos mais de dez tipos de hortaliças, plantados no terreno da escola, tudo sob orientação de um professor. “Como todos são filhos de agricultores eles já estão acostumados a fazer essas práticas em seus terrenos, mas, agora aprenderam como fazê-lo de forma mais saudável e sustentável”, afirma Antonio. Couve, brócolis, repolho, alface, beterraba, cenoura, cebola, tomate, mandioca, batata doce, entre outros, estão entre os alimentos que foram colhidos em abril último, em quantia suficiente para suprir a demanda dos alunos da escola Frei Henrique, durante todo o ano letivo de 2015, deixando ainda excedente de milho e cebola.

Universidade Metodista

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Os 150 alunos da escola municipal Tancredo Neves, localizada no centro da cidade, também foi beneficiada pela gorda colheita da escola Frei Henrique, e pôde receber ao longo do último ano hortaliças como alface, couve, repolho, entre outras. “Aderimos ao projeto e estamos produzindo em nossa própria horta, alface, repolho, cenoura, beterraba e mudas de temperos. Mas, como não temos tanto espaço para plantio, o que produzimos mal dá para nossos alunos; por isso, a ajuda da escola Frei Henrique foi tão providencial”, explica Simone Rovani, diretora da escola.

Assim como a ‘Tancredo Neves’, as demais escolas municipais aderiram ao projeto após ver o êxito da experiência da escola ruralFrei Henrique, e também por incentivo da Secretaria de Educação, que cede a infraestrutura necessária para o projeto, como maquinário para roçar o terreno, carro para levar o adubo até a escola, técnico agrícola e nutricionista. Além de incentivar práticas saudáveis no cultivo, o projeto ainda tem o objetivo de mudar hábitos alimentares. “Na hora da merenda, por exemplo, começamos a implementar, aos poucos, legumes e verduras no prato dos alunos e a aceitação foi muito boa”, conta Antônio. No lugar de agrotóxico, geralmente usado para afastar as ervas daninhas, o projeto sugere a realização da capina, e para afastar os insetos, o uso de receitas naturais preparadas com arruda e tabaco em corda. “Na nossa plantação não usamos adubo químico, coletamos esterco de um estábulo vizinho e transformamos em adubo orgânico”, diz o diretor.

Todo processo é realizado com a supervisão de um agricultor, um professor de técnicas agrícolas e uma nutricionista. Além da conscientização, esta iniciativa ainda reduz os gastos da Prefeitura com a compra de merenda. “Não quisemos pegar os alimentos da Prefeitura para evitar gastos, uma vez que temos o terreno e a possibilidade de produzir por nós mesmos”, relata Antônio. Também faz parte do projeto o resgate de plantas e chás medicinais para substituir o uso de remédios, e o plantio de mudas de temperos. “Plantamos 15 tipos de ervas medicinais, entre elas guaco, alecrim, arruda, boldo, etc, e algumas mudas de temperos, como salvia, alecrim, manjerona,etc. Tudo que é feito na prática é estudado em sala de aula”, explica o diretor, complementando que futuramente a ideia é distribuir gratuitamente essas mudas para as famílias dos alunos.

Aplicação do projeto em outros municípios

De acordo com o tesoureiro da Prefeitura, Ivonir Santolin, este projeto é fruto de parceria entre o poder público e a comunidade escolar. “Os municípios que tiverem necessidades semelhantes, e quiserem implantar uma iniciativa similar, devem apenas verificar quais produtos estão na lista dos mais consumidos pelas escolas, e começar o trabalho”, resume.


• Marianna Fanti