Prefeituras dos quatro cantos do País buscam alternativas para frear o mosquito que transmite diferentes doenças

A melhor forma de combater a proliferação do mosquito Aedes aegypti é evitar o acúmulo de água parada. Só que, mesmo com boa parte da população sabendo dessas recomendações, o Brasil atualmente convive com uma epidemia de dengue, febre chikungunya e o zika vírus, este último apontado como o causador dos recentes casos de microcefalia no País, uma tragédia por si só, e que ninguém sabe até onde vai e quando terminará. Só no ano passado foram registrados mais de 1,5 milhão de casos de dengue em todo território nacional, sendo 1.488 considerados casos graves. O número é 176% maior se comparado a 2014.

Por conta desses altos números, o Governo Federal lançou no final de 2015 uma campanha para que toda a população passe a ajudar, localizando possíveis criadouros da larva do inseto. De acordo com o Levantamento Rápido de Índice para Aedes aegypti (LIRAa), 199 cidades estão em situação de risco para um surto de dengue. Administrações municipais Brasil afora estão em estado de alerta para tentar combater o mosquito transmissor das doenças. A maioria age da forma tradicional, com campanhas educativas e visita às casas dos moradores para verificarem possíveis focos de reprodução. Mas, algumas prefeituras têm se dedicado a inovar nas ações de prevenção contra a proliferação das endemias.

Universidade Metodista

No interior de São Paulo a população é recompensada financeiramente se mantiver as residências limpas e livres dos pontos de infestação. Caso não esteja cumprindo as normas exigidas é penalizada no bolso. Em Pernambuco, duas prefeituras utilizam formas bem diferentes uma da outra, mas em busca do mesmo objetivo. Enquanto no Agreste são adotadas ações naturais para erradicar o Aedes aegypti, na região metropolitana do Recife é a tecnologia que auxilia a gestão pública no monitoramento dos locais de reprodução do inseto. Na Paraíba e no Amazonas, prefeituras têm usado imagens feitas por veículos aéreos não tripulados (drones) para identificar locais onde o mosquito transmissor pode se reproduzir mais facilmente.

Reconhecimento e punição Está na Lei Complementar nº 31, de 1º de setembro de 2014 da cidade de Castilho-SP (distante 648 km de São Paulo). A Prefeitura está autorizada a premiar anualmente, com o valor de R$ 300, trinta famílias que mantenham suas residências livres do mosquito da dengue por um período mínimo de dez meses consecutivos. Acompanhamento da limpeza das casas é feito todos os meses por agentes comunitários de saúde e de controle de endemias. A cidade do interior paulista, que tem população de 18.003 habitantes, registrou, no período entre janeiro e junho de 2015, quase 500 casos de dengue. Os imóveis são classificados avaliando os seguintes fatores: se o morador está cooperando e não deixando haver indícios de criadouros, advertindo os que não estão seguindo as recomendações e notificando os locais onde sejam encontradas larvas ou mosquitos que transmitem as doenças. Os proprietários que recebem advertências podem ser perdoados, caso os ajustes de limpeza sejam realizados no prazo de 72 horas.

Outra ação do município, por meio do decreto nº 499/15, trata da “Higiene dos Terrenos e das Edificações”. Fiscais do município são escalados para fazerem as notificações, solicitando a limpeza do local. Se o serviço não tiver sido executado pelo proprietário, a gestão municipal pode utilizar seus próprios funcionários ou mão de obra terceirizada para fazer a limpeza. O custo deste serviço será cobrado do proprietário, que passa a estar sujeito à multa, que pode chegar até R$ 1.275. Já o valor das cobranças impostas sobre aqueles que não contribuem para erradicação dos focos de reprodução do mosquito, é revertido para ações de limpezas do município. “Há um custo adicional para essas ações serem desenvolvidas e elas são decorrentes da omissão de alguns munícipes, que não cumprem com a obrigação de manter adequada higiene, limpeza e vigilância no controle de vetores”, explicou o prefeito de castilho, Joni Buzachero no texto do projeto que foi enviado à Câmara de Vereadores da cidade.

Ajuda animal

Os agentes de saúde do município de Garanhuns, no Agreste pernambucano, distante 231 km do Recife, que regularmente realizam ações educativas, visitas às residências e aplicações de larvicidas, agora contam com novos aliados. Peixes alevinos estão sendo distribuídos à população, para serem colocados dentro dos reservatórios de água para que ajudem na diminuição da proliferação do inseto, já que o animal se alimenta das larvas do mosquito que transmite a dengue, a febre chikungunya e o zika vírus.

Denominado “Peixe Vivo”, o projeto, que possibilita um maior controle ambiental, tem baixo custo e alto índice na redução dos transmissores. “Essa medida consiste em nós distribuirmos gratuitamente peixes da raça guppy aos moradores, de acordo com a área de cada agente. Esses alevinos, de forma comprovada, comem até 100 larvas do mosquito por dia, garantindo assim, a certeza que seu reservatório estará seguro”, explica o agente de saúde Ricardo Sobral, articulador do projeto no município.

Os peixes, que se alimentam das larvas deixadas pelo mosquito, interrompendo o ciclo de reprodução do inseto, são distribuídos aos moradores que procuram o posto e possuem reservatório com mais de mil litros. Como são animais que, ao atingirem a fase adulta, são de fácil reprodução, a intenção é que ao desenvolverem filhotes, sejam repassados aos vizinhos. “O projeto tem sido bem sucedido na mobilização da comunidade, com uma ampla base de adeptos e altos níveis de aceitação de nossa população, como forma eficaz de reduzir a propagação da dengue”, informa a enfermeira Hilda Madalena. No último levantamento de Índice Rápido de Aedes aegypti-LIRAa, no final de 2015, a cidade de Garanhuns, que tem população de 136.949 habitantes, foi registrado que 7,5% das residências do município apresentavam larvas do mosquito.

Fiscalização via internet

A missão de evitar a proliferação do Aedes aegypti não fica só por conta dos agentes de saúde ou fiscais no município de Paulista, localizada na região metropolitana do Recife, distante 16 km da capital pernambucana. A população local foi convocada a fazer parte da luta contra o inseto transmissor, relatando aos órgãos responsáveis onde existem possíveis focos de reprodução e depósito de larvas. Além de fazerem denúncias por telefone ou indo diretamente à Secretaria de Saúde, os moradores podem fazer a denúncia através de um aplicativo para smartphone chamado de ‘Xô Dengue’.

Ao encontrar algum criadouro do mosquito, o cidadão faz uma foto do local e uma breve descrição do problema. Através do app ele envia essas informações para a vigilância ambiental do município, que estipula um prazo entre três e sete dias para resolver o problema. Com a ferramenta digital, o morador também acompanha todas as etapas, do recebimento a até solução da sua denúncia.

O aplicativo, desenvolvido pela empresa paraibana Nova Tech, foi disponibilizado no dia 30 de dezembro de 2015 e em apenas uma semana mais de 160 notificações e locais com focos do mosquito foram feitos a partir dele. “O número de denúncias feitas pelo telefone já era alto, mas nós entendíamos que não era suficiente porque a informação não era precisa. O aplicativo é melhor, pois gera a localização de onde realmente o problema está ocorrendo”, explica a secretária de Saúde de Paulista, Fabiana Bernart. A cidade pernambucana teve 3.250 casos de suspeita de dengues, sendo 928 destes confirmados. “Não é um número alto, tendo em vista que muitas vezes a população se automedica e não procura o centro de saúde para tratar os casos”, informa a secretária. O município ainda registra 43 casos notificados de febre chikungunya e, apesar de não identificar nenhum caso de zika, 19 crianças que residem em Paulista nasceram com microcefalia.

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Monitorando do alto

Duas capitais brasileiras também resolveram apostar em tecnologia para enfrentar o Aedes aegypti. Buscando identificar pontos de reprodução do inseto de difícil acesso para os agentes de saúde, as prefeituras de João Pessoa e Manaus utilizam drones, que fazem imagens aéreas dos possíveis focos de germinação das larvas.

Silvio Ribeiro, diretor de Vigilância em Saúde da prefeitura de João Pessoa, diz que uma das maiores dificuldades encontradas pela gestão municipal era verificar as condições de limpeza e higiene de imóveis fechados ou abandonados. A Prefeitura conseguiu, por meio de liminar na Justiça, autorização para entrar nos locais onde houvesse suspeita de pontos de reprodução do mosquito. “A partir do momento que nossos agentes ambientais encontraram dificuldade em acessar terrenos que estavam murados ou edifícios que tinham caixas d’águas descobertas, passamos a utilizar os drones, o que facilitou esse trabalho, já que ele consegue captar imagens e identificar os locais com irregularidades”, revela.

Manaus também utiliza da mesma ação feita na capital paraibana e pelo mesmo motivo: facilitar o trabalho dos agentes de endemias. As imagens feitas pelos equipamentos aéreos são analisadas por técnicos de geoprocessamento no Centro Integrado de Operações Conjuntas em Saúde-Ciocs, que verificam locais com focos de Aedes aegypti e, a partir dessas demandas, encaminham equipes de fiscalização para os locais suspeitos. Os imóveis que foram identificados até o momento com focos da larva do mosquito, na chamada região de Carapanã, receberam autuações e multas de R$ 30 mil. “Com as imagens feitas pelos drones vamos visualizar locais antes inacessíveis. É tecnologia de ponta gerando imagens em tempo real, que serão avaliadas de imediato, gerando um tempo de resposta quase instantâneo. O resultado da primeira ação com o drone no Centro de Manaus confirma a importância da combinação de tecnologia com a vigilância”, declarou o secretário saúde de Manaus, Homero de Miranda Leão Neto. Além de utilizar os drones, a população de Manaus conta com serviços para fazer denúncias através de telefone e de e-mail, para ajudar a gestão municipal a combater o inseto. Até o início do mês de janeiro, a capital amazonense registrava 89 casos suspeitos de zika vírus. Do total, dois foram confirmados, oito descartados e 79 permanecem em investigação, sendo 13 gestantes.

Ações inovadoras para combater o Aedes Aegyptis

Castilho-SP
Sorteia prêmio em dinheiro para quem mantém a residência livre de pontos de reprodução do mosquito.

Garanhuns-PE
Entrega peixes que se alimentam das larvas do inseto para serem colocados nos reservatórios de água.

Paulista-PE

Utiliza aplicativo para smartphones onde moradores fazem imagens e indicam locais onde o inseto está se proliferando.

João Pessoa-PB
Faz monitoramento de áreas de difícil acesso através de imagens aéreas feitas por drones.

Manaus-AM
Monitora áreas através de drones e multa imóveis com foco de reprodução do mosquito.


• Gil Mendes