Projeto Farmácia Verde produz e distribui plantas medicinais

O uso de plantas medicinais na cura de doenças é milenar. Aprovada pela Organização Mundial da Saúde, a prática terapêutica – conhecida como fitoterapia – começou a crescer no Brasil principalmente a partir da década de 1980, período em que foi implantada a Farmácia Verde, em Ipatinga, Minas Gerais. Inaugurado, de fato, em 1995, o programa do município mineiro é tido como modelo para iniciativas similares em diversas cidades do País. A Farmácia Verde de Ipatinga produz e distribui medicamentos fitoterápicos para 21 farmácias da rede municipal de saúde, onde os pacientes podem retirá-los de forma gratuita, com prescrição médica. Ao todo, são 130 espécies de plantas catalogadas e 22 itens padronizados nas formas farmacêuticas de tinturas, sabão vegetal e cremes. Uma das tinturas – espécie de solução à base de água e álcool – fornecidas pelo projeto contém amora preta, eficaz no tratamento de sintomas da menopausa, como irritabilidade, sensação de calor e frio extremos e dores musculares. Outra tintura oferecida é feita com a planta alcachofra, usada no tratamento de colesterol.

Quanto aos cremes, um exemplo é o feito com calêndula. O produto é indicado para tratar queimaduras de primeiro grau, feridas, picadas de inseto e assaduras. O programa ainda distribui ervas frescas para a produção caseira de chás medicinais. Somente em 2014, a Farmácia Verde ofereceu mais de 13 mil unidades de medicamentos. O programa ainda oferece cursos. Para comemorar 20 anos do projeto, ano passado foram oferecidas diversas oficinas de cultivo e uso de plantas medicinais. “A orientação é fundamental para que o paciente saiba fazer o uso correto do produto e até mesmo como armazená-lo”, afirma a gerente da Farmácia, Domitila Morais Gonçalves.Cursos de atualização também são ministrados aos profissionais da rede municipal de Saúde, como forma de esclarecer dúvidas e incentivar a prescrição de fitoterápicos. “Muitos médicos da cidade, por conhecerem o projeto, oferecem, mas também acontece de o próprio paciente optar por remédios naturais”, diz Domitila.

Universidade Metodista

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A Farmácia Verde de Ipatinga é uma das pioneiras no Brasil, no modelo do Sistema Único de Saúde-SUS. O projeto foi inspirado na iniciativa das Farmácias Vivas, da Universidade Federal do Ceará, um dos percussores da introdução das plantas medicinais e fitoterápicos na atenção básica no Brasil. Um dos principais incentivadores do projeto foi o médico José Geraldo Lopes, acupunturista e homeopata que atuava na rede municipal de Saúde. Na época, o profissional realizava um trabalho junto à Pastoral da Saúde da Igreja Católica sobre o uso correto de plantas medicinais. O projeto promovia palestras e grupos de estudos, além de contar com uma horta comunitária para o cultivo e distribuição gratuita das plantas medicinais.

Com a crescente valorização da fitoterapia e do projeto popular, houve a necessidade de ampliar a área cultivável. O município cedeu parte de uma área no Viveiro Municipal, que hoje abriga a sede do programa. As primeiras mudas foram doadas pela própria comunidade. Atualmente, a Farmácia Verde conta áreas e equipamentos específicos para plantio e colheita, secagem e laboratório, além de setor administrativo e um galpão, onde são ministrados os cursos e palestras. No ano passado, o governo assegurou que serão investidos R$ 750 mil para reforma do laboratório, aquisição de novos equipamentos, mobiliário e insumos.

O sucesso do projeto é tamanho que, dos mais de 38 projetos similares no Brasil, a experiência ipatinguense foi escolhida como uma das melhores pelo Ministério da Saúde. Muitas prefeituras se interessam pelo programa. Em agosto passado, as instalações da farmácia foram conhecidas por uma comitiva de lideranças comunitárias, políticas e entidades de terapias naturalistas e medicina alternativa de Governador Valadares, também em Minas Gerais.