CERCA DE 10 TONELADAS DE FRUTAS, VERDURAS E LEGUMES, EM CONDIÇÕES DE USO E QUE SERIAM DESCARTADOS, SÃO ARRECADADOS EM FEIRAS LIVRES DE SANTO ANDRÉ E REDIRECIONADOS A ENTIDADES CADASTRADAS

> No mundo, 795 milhões de pessoas ainda passam fome. O dado faz parte de um criterioso levantamento da FAO-Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação, realizado em maio do ano passado, e aponta como centro do problema a pobreza e a falta de poder, fatores que impedem o acesso a alimentos nutritivos. O órgão estima também que as perdas globais de alimentos e o desperdício cheguem a 1,3 bilhão de toneladas por ano – um terço da produção mundial de alimentos.

Para mudar essa história, Santo André – na região metropolitana de São Paulo – iniciou há um ano parceria com a FAO/Brasil e criou o projeto pioneiro “Abasteça já esta ideia: diga não ao desperdício”, que reverte o descarte de alimentos em situação de uso nas feiras livres municipais a entidades que assistem crianças, jovens e adultos em insegurança alimentar. “O projeto de combate ao desperdício nas feiras livres de Santo André mostra que a cidade tem a preocupação em não só otimizar os alimentos que antes iam para o lixo, mas prover uma cultura de respeito ao meio ambiente, na qual se pode fazer muito com pequenas ações e, por meio destas, promover um bem imenso à pessoas que vivem em situação vulnerável”, considera o superintendente da CRAISA-Companhia Regional de Abastecimento Integrado de Santo André, Hélio Tomaz Rocha.

Universidade Metodista

Com a campanha “Pensar. Comer. Conservar. Diga não ao Desperdício”, a cidade arrecada em média, por mês, cerca de 10 toneladas de alimentos que seriam jogados no lixo em quatro feiras livres, nos bairros Jardim Guarará, Vila Luzita, Jardim Homero Thon e Vila Linda. Os recursos são revertidos às entidades Centro Espírita Jesus no Lar, que recebe insumos da Vila Luzita; Comunidade Nascer de Novo, participante no Bairro Homero Thon; Creche Recanto Somasquinho, na Vila Linda e Entidade Renovo, no Jardim Guarará. Todas as beneficiárias do programa estão localizadas a um raio de dois a cinco quilômetros das feiras participantes e contam com a ação de voluntários para fazer a captação e o transporte dos alimentos arrecadados.

COMBATE AO DESPERDÍCIO E ESTÍMULO AO CONSUMO CONSCIENTE

O coordenador de programas do Banco de Alimentos Municipal, Ronaldo Antônio Gonzalez, diz que o principal objetivo da iniciativa é conscientizar a população e os feirantes quanto ao desperdício de alimentos e ao consumo consciente. “A parceria é inédita e já gerou um retorno impressionante. Em janeiro de 2015, por exemplo, conseguimos arrecadar 460 quilos de frutas, que serviram 3833 pessoas, se considerarmos a média de consumo em 120 gramas por indivíduo. Foram arrecadados 190 quilos de legumes e verduras, no mesmo período, que atenderam outras 1266 pessoas, com a ingestão média de 150 gramas individualizadas”, comemorou, ao lembrar que a ideia está concretizada em apenas quatro das 74 feiras livres andreenses.

O incremento com frutas, verduras e legumes deu uma nova realidade às crianças assistidas pela creche Recanto Somasquinho, segundo a coordenadora administrativa, Roberta Cristiane de Freitas Rodrigues. “As doações correspondem a quase 100% da nossa necessidade em hortifrúti. Os alimentos chegam a nós às sextas feiras, quando fazemos a triagem e o armazenamento, para que sejam consumidos na semana seguinte. O que não está em plena condição de uso é utilizado para a composteira de nossa horta”, explica. A instituição assiste 330 crianças com idade entre 1 e 14 anos.

O plano para 2016 é ampliar gradualmente a adesão de feiras livres ao projeto, a partir de um levantamento que mapeia os locais com maior índice de desperdício, a partir de um estudo prioritário de gravimetria. A estratégia inclui a padronização dos procedimentos de retirada, o cadastramento de entidades interessadas em receber as doações no Banco de Alimentos, preenchimento de formulário de fornecimento para controle do que é arrecadado por parte dos feirantes, além de visitas técnicas aos locais de recebimento, para checar se atendem aos requisitos cadastrais.

A elaboração do trabalho é assistida e coordenada pela FAO/Brasil – braço da ONU-Organização das Nações Unidas, que contribui com o apoio de estrutura de material e mídias para divulgação do programa em níveis municipal e nacional, além de oferecer o expertise de técnicos para transcrever os indicadores que subsidiam as próximas ações.

Referência em projetos de segurança alimentar

Os projetos inovadores garantiram a Santo André visibilidade nacional e internacional e tornaram a cidade referência em projetos de segurança alimentar. O município recebeu o prêmio Josué de Castro, do Governo do Estado de São Paulo, por meio do Consea-SP-Conselho Estadual de Segurança Alimentar e Nutricional Sustentável, que premia iniciativas voltadas à formulação de soluções concretas para o combate à fome e a promoção de segurança alimentar e nutricional. Adicionalmente, a CRAISA pretende estimular e alavancar a adesão de feiras livres e de instituições beneficiadas, de forma gradativa e sustentável, visando a um acréscimo de 50% de expansão, calcula Gonzalez. “Trata-se de uma rede de solidariedade por parte dos feirantes. É um despertar para o não desperdício de alimentos, o cuidado em selecionar e separar os itens que, por sua vez, são recolhidos e transportados por voluntários, formando uma corrente do bem que engloba toda a sociedade civil. Uma experiência a ser incentivada e ampliada a outros bairros e, até mesmo, outros municípios”, assegura o coordenador do projeto.

A FAO/Brasil quer expandir o projeto e formar uma rede de prefeituras e de instituições privadas que trabalhem no combate à fome e ao desperdício, pautada por bons exemplos, como o de Santo André, em práticas de segurança nutricional e alimentar. “A meta é reduzir em 50%, num período de 10 anos, as perdas da cadeia de produção mundial”, estabelece.


 

Os municípios interessados em participar do Termo de Parceria de Cooperação Técnica do programa “Abasteça já esta ideia: diga não ao desperdício” devem procurar a FAO/Brasil – Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação, pelos telefones 

(61) 3038-2258 e
(61) 3343-2543

ou pelo e-mail:
FAO-BR@fao.org
Feirantes, instituições e comerciantes de Santo André podem obter mais informações pelo telefone
(11) 4996-9500, nos ramais 2031 ou 2061,

além dos e-mails:
abastecimento@craisa.com.br
ou bancodealimentos@craisa.com.br

 

Fernanda Bertoncini