PRODUZIR A PRÓPRIA PASTA DE DENTE OU O DESODORANTE GANHA ADEPTOS ENTRE OS QUE BUSCAM UMA VIDA MAIS NATURAL

> Vivian Yujin Chun não compra aromatizante ambiental, sabonete, creme corporal, protetor labial e alguns produtos de limpeza. Farmacêutica e bioquímica, ela cria tudo em casa. “Tenho pesquisado bastante e, em breve, também farei a minha própria pasta de dente.”

Elena Maria Rezende fez um curso e hoje produz seu desodorante sem aditivo que considera nocivo FOTO: MARIO CORTIVO

Elena Maria Rezende fez um curso e hoje produz seu desodorante sem aditivo que considera nocivo
FOTO: MARIO CORTIVO

Elena Maria Rezende deixou de ir ao supermercado há mais de um ano para comprar desodorante. A socióloga sabe que o produto é essencial para prevenir os odores eliminados pela transpiração, mas preferiu começar a produzir o seu próprio cosmético. Ambas fazem parte de um grupo que prefere cada vez mais receitas caseiras, em detrimento de produtos industrializados. “Busco uma vida mais saudável, sem influência de aditivos químicos em excesso no organismo, além da própria consciência ambiental”, afirma Elena.

Universidade Metodista

Elena Maria Rezende fez um curso e hoje produz seu desodorante sem aditivo que considera nocivo

Para fabricar o próprio desodorante, à base de bicarbonato de sódio, álcool de cereais, água e óleos essenciais, como sálvia, menta, lavanda, limão, eucalipto e alecrim, Elena fez uma oficina de plantas medicinais e uso doméstico de produtos caseiros e naturais.

Nestes cursos, além do ensino das receitas caseiras, podem ser conhecidos os prejuízos causados por produtos industrializados. “Vários deles são nocivos à saúde. Alguns desodorantes, por exemplo, contém triclosan”, diz Vivian. O agente pode estar ligado ao crescimento de células cancerígenas, segundo ela.

O químico Fernando Bello refuta Vivian. “Essas teorias conspiratórias sempre existiram. A verdade é que tudo em excesso faz mal à saúde. Por exemplo, o tutano de boi, usado em alguns xampus, é nocivo sim, mas em grandes proporções. A quantidade usada pelas indústrias é pífia”, afirma. “O triclosan é um bactericida regulamento, usado em todos os desodorantes e não há evidência de que faça mal.”

No ano passado, questionada pela agência norte-americana Bloomberg, o FDA (Food and Drug Administration), órgão que regulamenta medicamentos nos Estados Unidos, colocou em questão o triclosan, afirmando que não se sabe com certeza se ele é perigoso para os seres humanos.

A Sociedade Brasileira de Dermatologia garante que os cosméticos industrializados no país seguem as regras da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) e, em sua maioria, também do FDA. “Produtos que apresentem risco à saúde não são liberados por esses órgãos”, afirma a dermatologista Lilia Guadanhim.

A médica ainda alerta para os riscos da utilização de produtos caseiros. “A substituição de desodorantes pode trazer riscos, em especial em receitas que utilizem o limão, que pode causar irritações e manchas na pele.”

PÓ DE JUÁ

Denise Dhiira Mazeto há cerca de dez anos não usa nenhum produto químico no corpo. Além de desodorante (à base de leite de magnésia), xampú (bicarbonato de sódio) e condicionador (suco de limão), ela faz a própria pasta de dente, usando pó de juá. “Depois que parei de usar determinados produtos, em um curto espaço de tempo comecei a me senti bem melhor.”

A substituição do creme dental por produtos caseiros não é bem vista pela dentista Karen Alves Oliveira. “Existem vários estudos e artigos que comprovam que a efetividade da remoção da placa dental é muito maior quando a pasta de dente é usada. Já pasta de juá e sal marinho são agentes abrasivos que podem danificar o esmalte dos dentes. É preciso tomar muito cuidado.”

Denise concorda com a dentista e diz que existem muitas fontes, mas é preciso ter discernimento pra distinguir o que é melhor pra cada um. “Muitos desodorantes naturais, por exemplo, são feitos com álcool e óleos essenciais. Eu prefiro algo prático, como o leite de magnésia. Eu não acho conveniente usar álcool no corpo.”

Vivian tem a mesma opinião. “Sou bioquímica e, mesmo assim, procuro ler bastante, além de já ter feito vários cursos. Muitas pessoas acham que basta comprar os ingredientes e sair misturando. Não é assim que funciona”.

CAMINHO NATURAL
Preocupada também com essa questão, Vivian criou a Coletiva Caminho Natural, que promove encontros acerca do tema há um ano. Em agosto, o projeto promoveu diversas oficinas de curta duração para tratar de temas, como “Saúde através das plantas” e “Menos química, mais saúde”. “É a forma que encontramos para compartilhar conhecimento. Por que temos que usar produtos que não sabemos como foram feitos, se podemos fazer em casa?”

João Schleder