NA CAPITAL BAIANA, PROGRAMA AGENTE DA EDUCAÇÃO CAPACITA UNIVERSITÁRIOS PARA MANTER ESTUDANTES NAS ESCOLAS DA REDE MUNICIPAL DE ENSINO

  > Fabiana Gomes tem 28 anos e é moradora do bairro Pau da Lima, considerado um dos mais violentos de Salvador. Entre as ruas José Guilherme de Morães e Jaime Vieira Lima, fica a escola municipal Roberto Correia. É ali que a estudante de Pedagogia tenta mudar a realidade do local, por meio de um projeto que busca aproximar a comunidade e as famílias dos estudantes da escola.

Junto com mais 359 universitários, Fabiana faz parte do Programa Agente da Educação, lançado em julho de 2015. A ação visa a aumentar a frequência dos alunos na rede municipal de ensino, por meio de uma maior interação entre escola, família e comunidade, na rotina dos jovens. Com a missão de ouvir e acolher as necessidades dos alunos e levar essa demanda às unidades de ensino, os agentes trabalham durante 30 horas semanais em 85% das 440 escolas administradas pela Prefeitura.

Universidade Metodista

Segundo o secretário de Educação de Salvador, Guilherme Bellintani, o abandono escolar na cidade é entre 3% e 4% por ano, o que equivale a cerca de quatro mil crianças fora das salas de aula. Para não deixar esse número crescer, foi necessário criar uma ação que detectasse quais são os motivos das ausências e, ao mesmo tempo, pudesse levar de volta os estudantes para o ambiente escolar. De acordo com IHA – Índice de Homicídios na Adolescência de 2012, feito pela Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República junto com a Unicef – Organização das Nações Unidas para a Infância, a capital da Bahia é a terceira do País com mais assassinatos de jovens. Para Bellintani, incentivar as crianças a permanecerem na escola pode ajudar a diminuir a incidência de crimes na cidade. “Salvador é uma cidade muito pobre, com índices de violência muito elevados. Lógico que não é o aluno do ensino fundamental o gerador da violência, mas, quanto maior o abandono escolar nessa fase, maior a tendência de projeção futura do esfacelamento social”, diz. Buscando reverter essa situação, a Prefeitura capacitou estudantes de Pedagogia para trabalharem nas escolas, com ações que vão de atender os pais dos alunos na escola ou na própria residência, até desenvolver ações educativas e culturais dentro do espaço de ensino. “Para mim, como aluna de Pedagogia, está sendo uma experiência sem tamanho participar do Programa. A gente pode ver de perto a parte administrativa e interação da comunidade na escola. Está sendo muito gratificante”, revela Fabiana.

Vizinhos da escola

Para ser um agente da educação, o candidato precisa estar matriculado em um curso superior de Pedagogia e ter disponibilidade para trabalhar durante manhã e tarde. A preferência é por universitários que residam no mesmo bairro onde ficam as unidades de ensino. “O agente é um membro da comunidade, que conhece a história do local e que, muitas vezes, é até ex-aluno da escola. Nós entendemos que o universitário é uma referência naquele local, por ser exemplo de alguém que conseguiu vencer na vida e quem sabe, no futuro, ele possa até vir a ser professor nessas escolas”, explica o secretário.

Fabiana diz que fez parte de outros projetos em Pau da Lima e, por isso, já conhecia alguns pais. Mas, a partir do momento que eu me tornei agente, muitos já apontam e vem conversar sobre os filhos”, conta Fabiana.

A ação participativa dos agentes dentro da comunidade também é algo celebrado por Alinne Duarte, gestora da escola municipal Cabula I. “Por serem conhecidos, os agentes trazem as famílias para junto da escola e são potencializadores das ações que nós já desenvolvemos”, explica. A iniciativa é voltada para pais e alunos, mas, de acordo com o secretário de Educação, outras pessoas do bairro acabam se envolvendo no projeto. “O trabalho é muito novo, mas, já envolve toda uma rede local. A gente hoje já vê donos de mercadinhos no bairro participando da escola, com algo que seja necessário em um determinado momento”, explica.

Investimento que vale a pena

Mesmo ainda não tendo completado um ano de atividades, o Programa Agente da Educação já é comemorado como algo que deu certo. Para colocá-lo em prática, a gestão municipal fez uma experiência em 11 unidades, durante oito meses. Entre agosto de 2014 e junho de 2015 foi verificada nessas escolas uma diminuição de 60% no abandono escolar. A meta da prefeitura de Salvador é que em três anos a evasão escolar do município seja reduzida em 50%. Serão investidos R$ 4 milhões por ano para a execução do projeto. Atualmente, a rede de ensino soteropolitana tem 142 mil estudantes, sendo a terceira maior do País. “A gente só vai aferir dados objetivos após as matrículas para o ano letivo de 2016, mas, os resultados subjetivos são muito bons. A notícia de um agente visitando uma casa para fazer o acompanhamento do aluno tem impacto muito grande na comunidade. Eu costumo dizer que é a escola ganhando pernas e indo para perto das famílias. A gente não imaginava que isso fosse acontecer em um prazo tão curto”, explica Guilherme Bellintani, frisando que a maior participação dos pais e dos alunos dentro do ambiente escolar é o resultado mais positivo que a gestora da Cabula I verificou após a implantação do Programa. “O índice de infrequência aqui caiu para mais de 60%, e aumentou o número de famílias que participam de forma mais ativa das questões da escola”.

“Eu costumo dizer que é a escola ganhando pernas e indo para perto das famílias”

Compartilhando a iniciativa

De acordo com o Relatório de Desenvolvimento de 2012 elaborado pelas Nações Unidas, o Brasil tem a terceira maior taxa de evasão escolar dentre cem países analisados. No País, um em cada quatro alunos que inicia o ensino fundamental abandona a escola antes do final da última série.

A ideia do Programa Agente da Educação pode ser copiada ou ampliada em outras regiões brasileiras, embora cada região ou comunidade tenha suas próprias características. Porém, desde já o exemplo de Salvador pode ser levado a outros lugares. “A ideia é ótima, mas, tem que ir de acordo com a realidade de cada cidade, e é só no dia a dia que vai se desenvolvendo a forma de trabalhar”, opina Fabiana Gomes.

O secretário de Educação de Salvador garante que o investimento vale a pena, tendo em vista que o custo-benefício é muito grande. “É um valor pequeno diante do impacto que tem nas escolas. Estamos registrando tudo que está sendo feito e fazendo um processo de formação contínua junto aos agentes. Já temos capacidade de exportar tudo que está sendo realizado em Salvador para outros lugares”, resume.

Gil Luiz Mendes